Começa mais ou menos assim:
Pode ser o pessoal que está de fora esperando a sua vez de entrar, ou até mesmo com quem já está em quadra. Alguém dá um mole que normalmente não costuma dar. Os Monstars roubaram o talento dele! Todos se entreolham. Educados respondem. Quem entende a piada dá uma risada. Ou então um outro está, como diz o inglês desnecessário, on fire, pegando fogo, jogando muito. Ih! Ele tomou a poção secreta do Michael! O que faz todos automaticamente se voltarem para a garrafinha d’água que o dito cujo bebeu antes de entrar. Ou a minha favorita: ih, se esticou todo igual ao Jordan!
Michael Jordan possui muitas virtudes e habilidades. Se esticar talvez não seja a que mais o fez ganhar títulos na carreira, mas se esticar talvez seja uma daquelas que o tornou mais reconhecido entre crianças de uma certa geração (a saber: a minha). Sim, estamos falando de “Space Jam”, o filme que influenciou crianças dos anos 90 a se interessarem, a se apaixonarem pelo basquete. Claro e obviamente Pernalonga e sua turma eram um atrativo bom demais para se ignorar. Mas aquele tal de Michael Jordan? Ah, aquele ali é quem era o cara! Aquele ali era o maior jogador do planeta. Aquele ali era “quem eu queria ser quando crescesse”. Eu e tantos outros que cresceram e tomaram os seus rumos. Alguns de fato conseguiram o que queriam, como Zach Lavine na NBA e tantos outros iguais a ele. Já outros se encontraram nas Peladas de Domingo (marca registrada pendente). E acredito que boa parte deles teve aquele momento de, no alto dos seus sete anos de idade, projetaram os seus futuros e virarem para sua mãe e buscarem o seu primeiro passo. Como eu fiz com a minha mãe, cheio de sonhos e esperanças, o seguinte pedido:
Mãe, me coloca numa escolinha de basquete?
Não vai dar, filho.
Início de um sonho. Antes que os plantonistas dos memes da internet completem com deu tudo errado, eu já me adianto. Ok, TALVEZ o meu sonho de virar um astro do basquete tenha se encerrado ali com aquele não vai dar, filho. Talvez na época eu não tivesse maturidade suficiente para entender como era complicada a logística de uma mãe que trabalhava manhãs e tardes dando aula numa escola pública e lidando com a ausência do meu pai que passava longos períodos fora de casa trabalhando. Papo de meses. Fora que, vamos ser práticos, não tinha escolinha de basquete perto de casa. E acredito que até hoje não tenha. Imagino o quanto corta o coração de qualquer mãe falar o famoso não vai dar, seja lá por quais forem os motivos. E eu poderia inclusive acrescentar que fiquei muito triste e abalado. Mentira, eu fui jogar vídeo game. Mas não se engane, leitor. Aquilo ali sim, era um início de um sonho.
Porque a mesma mãe que me disse não vai dar, filho para o desejo da escolinha de basquete, foi a mãe que topou a loucura do filho que queria ter uma festa de aniversário do Space Jam. Vocês tem noção que simplesmente não existia tema de Space Jam nas casas de festa da época, e a minha mãe deu um jeito? Vocês tem noção de que ela também deu um jeito de colocar uma penca de crianças enfiadas dentro de um apartamento decorado com bolas, com mesa de bolo e fila de espera para pegar o controle do Super Nintendo? Vocês tem noção de que ela também me deu de presente a minha primeira bola de basquete que, de tanta alegria, eu comecei a driblar ali mesmo na sala de estar? Peço inclusive desculpas aos vizinhos do andar de baixo, com vinte e três anos de atraso.
Sobre o sonho? Deu tudo certo. Está dando certo até hoje, mãe. Graças a você. Sempre graças a você. Obrigado pelo apoio.
Feliz Dia das Mães!