Ô, Bosh! Presta atenção!
Confesso que esse tipo de comentário dói bem lá no fundo da alma. Não, não me chamo “Bosh”. Chris Bosh, bicampeão pelo Miami Heat, pegou o rebote mais importante da história da franquia, membro do Hall da Fama em breve, pai de uma família linda, bancou um café da manhã com a esposa aos pés do Cristo Redentor, muitos e muitos milhões a mais no saldo da conta bancária. DEFINITIVAMENTE esse aí não sou eu.
Só que naquele breve momento eu era. Era um desconhecido jogando uma pelada no Aterro do Flamengo, não conhecia ninguém e ninguém me conhecia. Precisando dar um esporro bem dado em alguém, a menina olhou para a camisa que eu estava usando naquele momento e assumiu que enquanto eu estivesse em quadra, eu era o Bosh. Por essas e outras me dói na alma levar uma chamada usando um nome emprestado. Porque quer queira, quer não, vestir uma camisa carregando o nome de um atleta da NBA tem algo de brincadeira infantil onde as crianças disputam quem vai ser quem. Eu sou aquele que voa!; eu sou aquele que solta raio!; EU QUERO SER O LEBRON JAMES!
No fundo, no fundo todo mundo sabe desses nossos devaneios infantis mal resolvidos que dariam um longo debate digno de Freud, embora eu ache que o psicanalista provavelmente fosse ruim de lance livre. A Gatorade, com aquela história de eu quero ser igual ao Mike, apelou para o nosso emocional. Sim, queremos ser igual a esses caras. Sim, vestimos a camisa como que fosse uma licença poética para fazer igualzinho a eles. E falhar miseravelmente na tarefa, é claro. O grande lance é que bater no peito e falar eu sou o Nash em alusão ao grande armador da NBA Steve Nash, e ser conhecido como tal, é outra sensação… que obviamente eu nunca tive, já que armar o jogo não é a minha. O “Nash” que eu conheço aqui da Rua I e da Praça da Guilherme ficaria possesso se outra pessoa tirasse a fama dele. Com exceção do Nash original.
Claro que nem sempre estamos preparados para carregar o peso da fama. Como aquela vez em que após um bom basquete debaixo do sol da Zona Oeste do Rio de Janeiro, mais especificamente na quadra da Rua Toronto no Ponto Chic em Padre Miguel, um grupo foi fazer um lanche na Kibon (marca registrada). Pedidos feitos, a galera na resenha e a atendente começa a chamar a Rose. Rose! Ô Rose!, e nada da Rose atender. O grande problema é que a Rose não era Rose, era a Vanessa. Que por sua vez vestia uma camisa do Derrick Rose, à época MVP e armador do Chicago Bulls. Mas teu nome não é “Rose”? Não tá escrito aí na tua camisa? – indignava-se a atendente que só queria fazer o seu trabalho.
Onde foi que tu arrumou essa camisa aí?, perguntamos ao colega que chega em quadra com um modelo bem raro. A camisa provavelmente passou alguns bons dias em Curitiba até ser liberada. Mas somos todos grandes admiradores e colecionadores de camisas de basquete. Guardamos, cuidamos, expomos. Em tempos de pandemias e lives, não é raro vê-las compondo os nossos cenários. Ainda carrego por elas a mesma admiração que eu tive desde a minha primeira camisa que meu pai trouxe dos Estados Unidos. Eram os saudosos Anos 90 e se não fosse para colocar muita informação na estampa, nem valia à pena. A minha era bem roxa, do Houston Rockets, com o foguetinho circulando uma bola de basquete. Número 4. Charles Barkley, membro do “Dream Team” e hall da fama. Por muito tempo eu fui um Barkley miniatura aprendendo a jogar. Depois fui Shaquille O’Neal, Dwyane Wade, Kevin Garnett, Ray Allen…
Mas naquele momento eu era Chris Bosh. Pedi a bola, subi para um arremesso de meia distância que só fez balançar a rede. Olhei para a menina e dei uma piscada.
Essa foi para você, Chris Bosh!