Milwaukee Bucks contra o Brooklyn Nets no Jogo 7 da semifinal do Leste em 2021 na NBA. 109 a 107 para o Bucks com seis segundos para o fim da partida e posse de bola para o Brooklyn Nets. Bola nas mãos de Kevin Durant. Ele se livra da marcação de P.J. Tucker, gira limpando a visão para tentar o arremesso longo, solta a bola e… cesta! Comemoração, o narrador louco, o estádio fervilhando e… não foi de três, foi de dois. Por muito pouco o pé dele estava em cima da linha de três pontos na hora do arremesso e a bola que poderia ter dado a vitória para o Brooklyn Nets acabou levando a partida para a prorrogação. Vitória do Milwaukee Bucks, que acabaria levando o título. O Brooklyn Nets continuou olhando para o pé de Kevin Durant que, ironicamente, joga com um par de tênis um tamanho maior do que o pé dele.
Só entende Kevin Durant quem passa pela mesma situação. O que é um campeonato da NBA perto do pleno conforto dos seus dedos do pé enquanto joga? Prioridades! Os tênis protagonizam grandes momentos da história, seja na NBA, seja nas quadras de cimento das peladas aí afora. Desde a proibição do Air Jordan, passando pelos tênis encomendados do Paraguai e remendados com Silver Tape, até aos pares customizados, eles são os maiores parceiros dos peladeiros. Esse aqui não dá mais não… tem que trocar… Geralmente o autor dessas frases está mentindo. Ele mente porque ele segura o coração na mão quando percebe o primeiro buraco aparecendo na sola. Mente porque não tem coragem de se desfazer dos calçados. Quando muito providencia uma aposentadoria honrosa.
Assim como Kevin Durant, você é a única pessoa capaz de saber qual é o tênis que vai te fazer “voar”, igual à música do Macklemore. No mangá mundialmente famoso Slam Dunk, o personagem Hanamichi Sakuragi vai experimentar tênis, coloca eles no pé e simplesmente… sente. O poder. O conforto. A potência. Tudo bem que depois ele acaba ficando com os tênis Air Jordan do vendedor da loja, mas vocês entenderam. Lembro de ter partido do mesmo princípio do Sakuragi quando fui ajudar na escolha dos tênis de uma amiga que estava aprendendo a jogar. Falei para ela “sentir o poder” e deu muito certo. Ou pelo menos tão certo até os tênis estourarem anos depois, mas aquele momento valeu muito a pena.
Do mesmo jeito que Kevin Durant escolheu um calçado de tamanho maior, eu escolhi essa tática para conforto dos meus pés. E se eu não tivesse escolhido, azar o meu também. Porque eu tinha encontrado um par de tênis do Derrick Rose lindos como nunca, brilhando na prateleira como que esperando por mim. Quando eu os calcei, senti o tal do “poder”, o conforto, a potência. Sabia que aqueles ali eram os que me fariam voar. O vendedor parecia tão ou mais feliz do que eu quando eu os levei ao caixa. Só depois eu entendi a alegria do vendedor de finalmente ter alguém comprando aquele par na loja. No meu entusiasmo eu acabei não percebendo que o tal do conforto não era por ser um tamanho maior do que o meu pé, mas quatro! Os tênis Derrick Rose eram de tamanho 48 e eu, no auge da minha empolgação, não me dei conta até chegar em casa com eles. Os tênis que me fariam voar na verdade eram os tênis que me fariam tropeçar nos próprios pés e atrair os olhares de todos em quadra com a melhor expressão de mas não é possível!
E quem disse que eu os devolvi? Foram bons anos de bons jogos e hoje estão devidamente aposentados. Que aproveitem o merecido descanso. Sempre soube que valeria a pena.