Contrariando a lógica desta coluna, e não seria nem a primeira vez, a Pelada de hoje não é bem uma Pelada de Domingo, mas uma Pelada de Segunda. Se de categoria ou de dia de semana, deixo por conta do leitor. A verdade é que recentemente celebramos o dia do trabalho, ou do trabalhador, e nada mais justo para ele do que uma pelada no primeiro dia útil da semana.
Pois lembro-me bem de um verão específico que, especificamente falando, eu não me lembro bem qual foi o ano. Mas ficou marcado tal qual filme adolescente de Hollywood aonde a garotada mal pode esperar pelo verão chegando. Não sei vocês, mas diferentemente do que o resto do Brasil pensa, o Rio de Janeiro não é uma constante novela do Manoel Carlos. Nem todo lugar é praia, e Bangu e adjacências se incluem nessa categoria. Pois no tal verão era um tal de marcar as peladas pelo Facebook (muito popular à época) e saber em qual quadra estaríamos. Tinha a da Rua Limites, a da COHAB, mas a minha favorita naquele verão era a do Parque Leopoldina. O Parque Leopoldina, para quem não sabe, é o que a gente chama de Zona Sul de Bangu. O IDH lá deve ser acima da média do país. Não só temos a quadra de basquete, como também campo de futebol e uma quadra… de tênis. Pública. Sentiu? Pois bem…
Pelada no Parque Leopoldina já começava com resenha antes mesmo de chegar em quadra. Era um tal de discussão por conta do horário que olha… A pelada do PL (para os íntimos) se estendia pela noite. O problema era que quem só podia aparecer para jogar à noite, reclamava da pelada começar à tarde porque o pessoal que chegava à tarde já não tinha mais fôlego para acompanhar quem chegava descansado à noite. Fora que a água também já teria acabado e a melhor opção que nós tínhamos era uma torneira que ficava na calçada aonde as pessoas se lavavam e os cachorros bebiam água. Humanos com coragem ou muita sede também se aventuravam por lá. Mas discutindo ou não, todo mundo ia. Trabalhadores, estagiários, estudantes e desempregados, categoria na qual à época eu me incluía.
E sim, eu ia à tarde. Era verão, como eu disse. E verão em Bangu merece por si só um capítulo à parte. Papo de você sentir a quentura da quadra na sola do tênis. Uma amiga minha inclusive perdeu o dela para o asfalto quente daqui. Por ser perto da minha casa, eu já ia vestido com meu uniforme e meu tênis. Cada um ostentava as suas melhores camisas da NBA. Um de nós tinha uma camisa do Kobe Bryant que viria a perde-la anos mais tarde para uma companheira raivosa no calor da discussão. Outro, vindo do estágio, despia o seu traje social ali no meio da quadra mesmo sem muito critério e num minuto calçava os tênis e vestia a camiseta. Outro, que eu nunca tinha visto na vida, me cismou de vestir uma roupa idêntica à minha e ainda por cima se parecia comigo fisicamente, dificultando para os companheiros saber quem era quem em quadra. Uma pena eu nunca mais ter visto o meu irmão gêmeo perdido. Coisas daquele verão que eu já nem me lembro mais quando foi.
E jogávamos. Jogávamos tanto quanto o calor, a nossa juventude, ou as reservas de água nos permitissem. Foi no Parque Leopoldina que o Irmão do Jorel (o moleque era parecido mesmo. Hoje ele é mais alto do que eu) acertou uma bola de três do meio da quadra e ninguém levou fé que o jogo já tinha começado. Foi lá aonde numa dessas aleatoriedades de tirar time, fui parte de uma equipe que ganhou oito partidas consecutivas sob os protestos de mas vocês não vão perder não?. Foi lá um dos muitos lugares em que as chuvas de verão acabaram com a nossa farra. Foi lá aonde o Pedro meteu uma bola por baixo das pernas do BRT, não o ônibus, mas o rapaz com esse apelido, que deixou ele cair sentado reclamando de falta enquanto o resto do pessoal em quadra urrava em êxtase. Foi lá onde um senhorzinho se sentou no banco da praça, com crianças brincando ao seu redor, retirou sua clarineta do estojo e começou a tocar Bossa Nova.
Tô me sentindo em novela do Manoel Carlos, disse o Cory (que na verdade se chama Lucas).
É… tem vezes em que o subúrbio do Rio de Janeiro e o basquete no verão chegam perto.