Precisamos sair da bolha de que gostar de NBA é gostar de basquete

Texto em homenagem ao meu avô Carmo de Campos, que sempre foi minha maior inspiração para se recriar e lembrar que sempre é tempo de aprender.

Eu e meu avô, minha maior inspiração. Foto: arquivo pessoal.

Por muitos anos eu falei que amava basquete desde que nasci, porém só fui me dar conta de como estava errada em 2014, ano que comecei a acompanhar a NBB. Antes eu não amava basquete, mas sim uma liga especifica, a NBA!

Mas sei que vão vir falar que “NBA é basquete”! Eu não tiro a razão de vocês – NBA é basquete; entretanto, não é só essa liga que é! Precisamos sair da bolha de que gostar de NBA é gostar de basquete.

Como disse no primeiro parágrafo, só descobri que não amava basquete no geral no ano de 2014, quando comecei a acompanhar NBB – muito por causa do Alex Garcia no extinto Lobos Brasília. Desta maneira, comecei a questionar o motivo de não assistir o basquete brasileiro, sendo que dizia aos quatro cantos o quanto amava basquete. 

A partir desse momento, percebi que não gostava de basquete e sim, de uma liga específica, e comecei o meu próprio processo de desconstrução. Fui pesquisar sobre NBB, sobre o basquete no Brasil, os atletas, os times, regulamento, se passava nos canais de TV, entre outras milhões de coisas. Confesso que quando comecei esse processo, achei que não teria problemas. No entanto, descobri o quanto era leiga sobre a história do basquete do meu país. Fiquei um ano estudando NBB em si e a partir disso conheci outras ligas, também masculinas, e comecei a acompanhar.

Todavia, sentia que esse processo de desconstrução ainda era falho: eu sempre falava sobre desconstruir, sempre lutava contra o machismo no mundo esportivo, só que eu era machista com o mundo esportivo, pois não fui ensinada a gostar da modalidade feminina que eu tanto amo, basquete. Foi aí que comecei a me reeducar, fui atrás para pesquisar as ligas femininas de basquetebol e novamente comecei pela WNBA. Conheci a W em 2016, mas não tinha muitas informações disponíveis em português, e na época meu inglês ainda era ruim. Acabei largando mão de acompanhar com mais afinco.

Contudo, o bichinho da desconstrução voltou a me picar em 2017, exatamente uma semana antes da temporada da WNBA daquele ano começar. Nesse ano, acompanhei a temporada toda, assisti ao máximo de jogos possíveis, vi vídeos sobre as jogadoras que tinham me chamado a atenção e corri para descobrir as histórias dos clubes.

Comecei a viver a WNBA e a amar o basquete feminino, passando a assistir muitas seleções femininas de basquete. Em especial a do Brasil, pois queria muito conhecer jogadoras além da Janeth, Hortência, Magic Paula e Alessandra. Desta maneira cheguei na nossa LBF – até então eu não sabia da existência da liga, pois a mídia não nos apresenta esse conteúdo, e muito menos o divulga. 

Jogo das Estrelas – LBF 2019. Foto: Alexandre Carvalho

Não há valorização do basquete feminino e muito menos das atletas, pois a mídia não reconhece a bola laranja, e sim os homens que jogam com essa bola laranja – e consequentemente as ligas masculinas.

E esse é o caminho que temos que fazer acontecer: dar voz às ligas femininas, começando por nós. Lembrem-se de que ninguém nasce sabendo andar, tudo isso é ensinado – há um processo desde o engatinhar, e a mesma coisa acontece com o basquete feminino. 

Pesquisem, entrem nesse mundo, permitam-se engatinhar, dar pequenos passos e se abram para o universo da bola laranja, pois ele é lindo por completo!