O despertador toca. Uns estão no celular. Outros estão dentro do próprio corpo, já habituado com a rotina da semana. O corpo já é uma máquina adaptada. Mas hoje não. Hoje é diferente, é domingo.

Uns dão um beijo em quem tá do lado na cama. Ou quem tá na cama no quarto ao lado. Ou em quem espera pra tomar o café juntos. Outros vão sem café mesmo, na coragem. Vai logo pegar a mochila, separar a bermuda e a camisa. Camisa que às vezes já passa o recado. O nome nas costas avisa: “vou jogar que nem esse cara aqui”. O tênis já tá esperando.

Pega o celular. Manda mensagem, avisa que tá chegando, pede pra deixar o nome na lista, chama quem tá atrasado. Uns vão de carro. Perguntam quem quer carona. Outros esperam o ônibus. Outros ainda nem da cama saíram, mas avisam que “já tão chegando”. Quem conhece sabe a sacanagem, mas também sabe que uma hora aparece.

Se é dia de sol, ele ajuda a acordar, tirar o sono dos olhos. Ajuda também a constatar “hoje tá quente, hein?”. Se for coberta, melhor. Se for na rua, protetor pra quem é precavido, coragem pra quem é cara de pau. Se é dia de chuva, quem escapou da armadilha dos lençóis, saiu de casa rezando pra passar logo. Ou então pensou “tá fraquinha, dá pra jogar”. Se for coberta, melhor ainda.

Chega na quadra. Cumprimenta quem já chegou. Se você inaugurou, aquece, se estica. Troca de roupa, se for o caso. Bota o tênis, que é o melhor amigo dentro de quadra. Seja ele com cheirinho de novo, ou com um buraco na sola e muita derrapagem. É com ele que o seu jogo vai render. Se você trouxe ela, pega a bola. Se não, cadê fulano com a bola pra pelada começar logo? Pega, sente o quique, a aderência. Tem gente que até cheira o couro. “Essa aqui tá vazia, hein?”; “essa aqui tá muito cheia, hein?”. Ninguém nunca está satisfeito logo de cara. Bota a culpa na bola por causa de um arremesso horrível. Ah, se a bola falasse…

Uma, duas, três… quantas vezes for necessário. Arremessa. Joga conversa fora. Pega a bola daquele lá e devolve. Vai atrás da sua. Cumprimenta quem não aparece tem um tempo. Arremessa de novo. Vai pra linha dos três, volta pra fazer bandeja. Tem mais gente chegando. Viu NBA ontem? Vamos tirar time? Todo mundo pra linha do lance livre ou nome na lista? Sabe fulano? Agora tá namorando/casou/divorciou/vai ter filho/qualquer outra coisa que faça você perceber como faz tempo. Alguém aparece e pergunta se pode jogar. Fica de outra. De novo esqueceram de trazer água. Vai rolar até a sede bater. Valendo um açaí no final?

É domingo!

É dia de pelada.

Pelada na Praça do Canhão – Realengo, Rio de Janeiro – RJ