Cês viram o Curry em Cleveland? Rapaz…

Para quem não viu: no último All Star Weekend da NBA em Cleveland, Stephen Curry acertou dezesseis arremessos de 3 pontos. 16. Dezesseis! Dezesseis bolas laranjas saindo lá de Akron, Ohio, e caindo certeiras na cesta. Estabeleceu o recorde do jogo das estrelas e ficou a exatamente uma bola que teimou em não cair para ultrapassar os 52 pontos de Anthony Davis e ser o maior pontuador da história do evento. Teve que se contentar com míseros 50 pontos, o pobre rapaz.

Obviamente o assunto rendeu um bocado ao longo da semana. Numa das muitas análises, jornalistas da ESPN exibiam novamente as imagens de Curry arremessando a bola e, com um sorriso no rosto, voltando para a quadra de defesa ou encarando a plateia antes mesmo da bola passar pela redinha presa ao aro fazendo swish. Zé Boquinha, ex-técnico e atual comentarista da rede, comentou na hora que o jogador sabe já no momento em que a bola sai da mão quando o arremesso é certeiro. Em se tratando de Stephen Curry, um dos maiores arremessadores que esse mundo já viu, vocês imaginem a chatice que não deve ser ficar sabendo o tempo todo quando a bola vai acertar.

Porque a realidade é essa mesmo: já sabemos. Quem joga, sabe. Não é uma questão de ser bom ou não. Claro que sendo bom, a coisa toda fica mais fácil. Mas a verdade é que não são poucas as vezes em que ouvimos errei quando a bola deixa o toque dos nossos dedos. A gente sente quando alguma coisa não está muito legal. O braço estava torto, o joelho ficou duro, a munheca não quebrou, ou você estava olhando pra ontem. São vários os fatores que interferem na cesta acontecendo ou nem passando perto do aro. Da mesma forma, talvez não de uma forma Curry, mas uma forma mesmo assim, quando ela vai cair, dá pra perceber. O vento soprou a favor, o seu corpo todo trabalhou com uma perfeição impecável e… swish.

Quando jogamos basquete, fazemos um enorme exercício de previsão. Prevendo quando a bola vai cair ou não vai. Quando aquele passe sai tão redondo que o único caminho possível é virar assistência. Quando o passe é de costas, ficando no meio do caminho entre a audácia e a patifaria, é uma obra de arte. Leitura corporal bem feita faz você prever os movimentos que o seu adversário vai fazer e se antecipar a ele. Corta o passe, puxa o contra-ataque e já liga a bola para o companheiro que já está lá na frente esperando a bola. 

(Só queria sinalizar que com o passar do tempo a quantidade de elementos iguais a esse que sai correndo na frente vai diminuindo com o tempo e a idade dos envolvidos. Incluo-me. Seguimos)

Parece um jogo previsível de estratégia. Mas existem motivos pelos quais ele se chama “basquete” e não “xadrez”. Russell Westbrook agradece por isso, inclusive. No fim das contas entramos em quadra toda vez em busca não do previsível, mas do improvável. Tão improvável como aquela última bola do Curry não ter caído em Cleveland. Como a seleção brasileira no mundial, derrotando a Grécia de Giannis Antetokounmpo. Como o pé do Kevin Durant na linha dos três no arremesso decisivo. Como os cinco quiques da bola do Kawhi Leonard contra Philadelphia. Quanto Oscar Schmidt e o Pan-Americano de 87. Quanto a virada de 3 a 1 nas Finais de 16. Tamo atrás é disso aí. 


Respeito àqueles que alcançam a grandeza, e respeito àqueles que estão em busca dessa sensação elusiva – Kobe Bryant

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