Fãs do basquete sabem bem como existe uma mística em volta do ginásio do Madison Square Garden, em Nova Iorque (ou New York, para os defensores do inglês desnecessário). Considerada “a Meca do basquete”, a casa do New York Knicks foi palco para algumas das maiores apresentações da história da NBA: Michael Jordan noite sim e noite também. Reggie Miller arrumando confusão com Spike Lee sentado à beira da quadra. Kobe Bryant buscando o recorde de pontuação da arena, e por aí vai. Como se não bastasse, o fã do Knicks é considerado o verdadeiro torcedor, que vai para a arena assistir o espetáculo ao invés de ficar com a cara enfiada no celular.

Por essas e outras é que existe a história do fã de basquete querer visitar o Madison Square Garden. Outros sonham mais alto: querem jogar no Madison Square Garden. Querem se apresentar diante da melhor plateia possível e put on a show, já diriam os gringos. Outros mais saudosos pensam em viajar no tempo e estar em uma das noites históricas que eu mencionei. Esse é o meu caso. Mas o que eu gostaria mesmo era de voltar no passado recente, tão recente que foi ontem à noite.

Ontem, dia 26 de maio de 2021, foi noite de Jogo 2 da série de playoffs entre Atlanta Hawks e New York Knicks. O time do Knicks procurava uma vitória em casa após ter perdido o jogo 1 para o Hawks, com direito ao jovem atleta Trae Young, o Ice Tray, colocando o indicador diante dos lábios fazendo a plateia gigantesca se calar depois de uma bola decisiva que garantiu o jogo para Atlanta. Missão difícil e nervosa, com um início de jogo muito favorável ao time visitante. Mas o Knicks tinha a trinca Thibodeau, Gibson e Rose – técnico e atletas que já viveram grandes dias em Chicago e repetiam a parceria agora em NYC. Rose, por sua vez, o atleta mais jovem a ser eleito MVP, após uma série de lesões que acabariam com o físico e o mental de muita gente, agora voltava a brilhar com muita experiência em um dos maiores palcos do mundo. E no segundo tempo surgem Reggie Bullock e Julius Randle, o atleta eleito “mais evoluído” de uma temporada para outra, jogando forte e jogando muito para botar o Knicks de volta ao jogo e brigarem pela vitória. Deu Knicks no final. Trae Young deixou a quadra debaixo de uma chuva de provocações devolvendo: see you in A, “vejo vocês em A(tlanta)”.

Colocando em perspectiva, honestamente falando, talvez a partida de ontem nem tenha sido a melhor que eu já tenha visto no MSG. Nem a mais bem jogada. Mas era lá que eu queria estar. Como um dos mais de 16.000 torcedores. Vou escrever por extenso para dar a verdadeira dimensão: mais de dezesseis mil torcedores presentes. Nesse que pode ser chamado de “ano dois” da pandemia global do Coronavírus. Você perceberia que nem tudo estava tão tranquilo pela quantidade de máscaras nos torcedores (grande parte delas sendo usadas no queixo). Entretanto, eu estou falando de dezesseis mil pessoas vacinadas, reunidas para assistir e torcer em um jogo de basquete. Celebrar o fato de estarem vivas numa cidade onde morreu muita gente, que inclusive poderia estar lá torcendo também no MSG. Mas celebrando. Celebrando a vida. Celebrando terem conseguido chegar até ali tanto quanto o Knicks celebrava ter voltado aos playoffs após anos e anos de ostracismo. A mãe do Obi Toppin emocionada com a torcida gritando o nome de seu filho. O filho de Julius Randle celebrando a atuação do seu pai. E a gente aqui.

Aqui vamos muito longe de tudo isso. Aqui nós somos pequenos diante do resto do mundo. Ou, para usar o verb to be, aqui estamos pequenos diante do resto do mundo. Há espaço para crescer, se reerguer e buscar o nosso lugar no topo outra vez. Igual o Knicks. Quem sabe…

Algum dia… quem sabe…

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