Negligenciei minha saúde mental durante todos os meus 23 anos de vida, principalmente por abusar do uso de álcool. Até um dia em que o antigo Diego morreu, e a partir dali tudo mudou, em todos os âmbitos da minha vida, principalmente a minha imagem e as minhas relações sociais. Devo esse dia ao basquete e esse é o meu agradecimento.
Querido basquete,
Gostaria de primeiramente agradecer, pois graças a você eu ainda estou aqui, escrevendo esse texto no dia 7 de março de 2020. A depressão quase me tirou tudo, mas sua magia, seu encanto e sua diversidade me mantiveram nesse plano, me dando algum sentido na vida. Nos meus momentos mais turbulentos, o que me dava sanidade, mesmo que por tempo limitado, que me dava força para lutar dia a dia, era você.
Foi você que me mostrou indiretamente que o álcool não era uma solução, mas sim um problema. Que continuar me afogando em bebida não me levaria a nada, além de só me prejudicar na prática da minha nova paixão. Os primeiros meses não foram fáceis, mas mantive o foco – aprendi com um cara aí que jogava em Los Angeles e outro mano que jogou em Chicago.
Eu não tinha perspectiva de vida, muito menos de futuro. Mergulhei de cabeça, pois só enxergava prazer em ler, ver, estudar, consumir e viver o esporte da bola laranja. Nada na minha cabeça fazia sentido – a faculdade, entre elas. Eram 24 horas vivendo o basquete e lutando diariamente contra a garrafa e o fundo dela. Minha cabeça dizia para beber, mas meu corpo negava e pedia mais um vídeo de footwork, mais um highlight, infindáveis pranchetas de jogadas e podcasts. Muitos podcasts.
Me entrego 100% em quadra por isso: intensidade em todos os lances, mesmo meu corpo dizendo que não vai rolar. Me jogo em cada rebote, cavo faltas, tento roubar todas as bolas possíveis – e as impossíveis também –, acho passes e infiltrações, subo para dar tocos mesmo o cara sendo 20 ou 30 cm mais alto, e estou sempre treinando arremessos.
Mesmo não sendo o melhor, vou me desdobrar até chegar ao limite das minhas capacidades físicas, pois foi graças a esse esporte que eu não me entreguei. Dou minha raça em quadra, meu suor, meu sangue e toda a minha intensidade (às vezes maníaca), para talvez um dia retribuir tudo o que o esporte me deu. Muito obrigado Rodman, Big Ben e MJ.
Este texto é um desabafo sobre o dia em que eu acordei no chão do meu quarto, enquanto ouvia Gangsta Paradise vindo do meu celular e eu não sabia se estava vivo ou não. Foi o basquete quem me segurou aqui. Minha mente pode me sabotar, porém o que me salva nesses momentos é você. Queria agradecer a todos os meus irmãos do Rayo Proletário e aos meus irmãos João Andreatta, Lel e a minha consagrada Isabella Mei, que me ajudaram e muito neste período obscuro e difícil.
“Quando eu piso na quadra, não tenho que pensar em mais nada. Se tiver um problema fora dela, minha mente fica mais clara depois para encontrar a melhor solução. É como uma terapia. Entrar em quadra me relaxa e me permite resolver problemas.” Michael Jordan.