No dia da publicação das regras por James Naismith, conheça uma de suas discípulas – a mãe do basquete feminino.

Se tem algo que eu aprendi como genealogista e historiador amador é: as mulheres sempre estiveram lá. Em todos os momentos cruciais da história, elas estavam lá, como protagonistas. Muitas das vezes não conseguimos reconstruir seus passos para contar suas histórias por conta do apagamento sistemático que suas histórias e legados sofrem.

Por isso, sempre que é possível reconstruir uma dessas histórias, de demonstrar a importância e relevância de seus feitos, é nosso dever contar, divulgar e não deixar que sejam esquecidas.

Um desses casos trata-se nada menos do que o da “mãe do basquetebol feminino“, a primeira mulher a entrar no Hall da Fama do Basquete, responsável pelo primeiro jogo oficial de basquete feminino e pelo primeiro manual de regras para essa modalidade.

Nascida na Lituânia, como Senda Valvrojenski, ela imigrou para os EUA, aos sete anos, em 1875. Sua família passou a adotar o sobrenome Berenson, então foi assim que ela se tornou conhecida – como Senda Berenson.

Senda Berenson. Foto: arquivo pessoal.

Em 1889, Mary Hemenway – uma filantropista sobre qual vale a pena saber mais -, criou a Boston Normal School of Gymnastics. A escola bebeu de várias fontes, incluindo o Instituto Real de Ginástica da Suécia, e de Harvard, e futuramente viria a se tornar um departamento dentro do Wellesley College. Senda ficou sabendo da escola por um amigo e decidiu entrar para melhorar seu condicionamento, para somente então retornar ao conservatório onde estudava. A experiência obtida na escola a fez abandonar a ideia do conservatório e de seguir pelo lado artístico, para espanto da família, em especial de seu irmão Bernard, um famoso escritor e historiador da arte.

Senda Berenson: da arte para o esporte. Foto: arquivo pessoal.

No ano de 1892, ela passou a ensinar Educação Física no Smith College, em um emprego temporário. Depois de ler sobre um novo jogo chamado “Basket Ball“, ela foi observar uma partida na ACM (Associação Cristã de Moços, YMCA em inglês), em Springfield. Ali conversou com o inventor do jogo, Dr. James Naismith, e recebeu apoio para adotar o esporte como exercício para suas estudantes.

Senda Berenson ao lado das cordas de escalada para exercícios de suas alunas. Foto: arquivo pessoal.

A primeira partida de basquete feminino ocorreu em 22 de março de 1893, apenas dois anos após a invenção do esporte por Naismith, e com a divulgação da ACM por mais dois anos, centenas de times femininos já haviam sido formados. Berenson escreveu e desenvolveu o primeiro livro de regras de “Basket Ball” universitário para mulheres, publicado pela “Spalding Athletic Library” em 1901. E muitas de suas regras permaneceram como regras oficiais por 70 anos.

Foto da Primeira Partida de Basquete Feminino. Foto: Smith College Archives.

Ela considerava as regras iniciais do esporte muito brutas (em parte devido à quantidade de lesões resultantes das primeiras partidas), então Senda trabalhou para adaptar as regras e tornar o jogo mais aprazível para mulheres, e para evitar a tendência à “brutalidade” (vale a pena procurarem pelo áudio do Dr. Naismith narrando os resultados da primeira partida jogada para entender esse adjetivo).

Entrevista de rádio de 1939 com Naismith

Seu trabalho foi fundamental para que o basquete feminino fosse mais organizado e existissem mais times femininos que masculinos nos primeiros anos do esporte – essa situação viria apenas a se inverter quando as universidades passaram a adotar programas de basquete masculino.

Ao final de seu primeiro ano no Smith College, ela foi convidada para retornar, agora de maneira definitiva. Como se não bastasse isso, com o sucesso do “Basket Ball”, ela introduziu novos esportes para as estudantes. Após uma viagem à Suécia, ainda em 1893, ela começou um programa de dança Folk. Em 1901, trabalhou junto com Lady Constance Applebee, da Inglaterra (pesquise por ela, você não se arrependerá), para criar um programa de hóquei sobre grama. Ela ainda apresentou a esgrima e um outro esporte de equipe também criado nas ACM, o vôlei.

Primeira edição do livro de Regras do Basquete Feminino lançado em 1899. Foto: HA.com

Apenas, para termos de comparação, o basquete chegou ao Brasil em 1896, e por aqui também cresceu muito entre as mulheres nos primeiros anos. Somente muito tempo depois é foi superado em quantidade de praticantes pelo basquete masculino, mas isso é assunto para outro momento.

Time de basquete feminino da UCLA-Berkley de 1899. Foto: UCLA.
Foto de um time de 1902, o primeiro a dar destaque para os uniformes, então chamados de bloomer suits. Foto: UCLA.

Em 1911, ela se casou com um professor de Inglês da Smith College, e acabou se desligando da instituição, mas continuou ensinando Educação Física na Mary A. Burham School, em Northampton.

Embora tenha falecido em 1954, em Santa Bárbara, na Califórnia, e suas contribuições tenham sido fundamentais para a disseminação do basquete feminino, as homenagens só vieram muito tempo depois, recebendo diversas homenagens póstumas. Em 1985, ela se tornou a primeira mulher introduzida no Hall da Fama do Basquete. Ela foi também introduzida no Hall da Fama Judaico dos Esportes, em 1987, e no Hall da Fama do Basquete Feminino, em 1999.

Por último, deixo aqui algumas perguntas:

  • Você já a conhecia?
  • Por que você acha que não se fala mais dela?
  • O que você vai fazer no próximo 22 de março? Que tal comemorar o aniversário do basquete feminino?

LINKS PARA VOCÊ QUE SE INTERESSOU POR TODA A NARRATIVA:

https://www.wikiwand.com/en/Senda_Berenson_Abbott

The mother of Women’s Basketball

Senda Berenson Abbott – Mother of Women’s Basketball