Dando sequência à nossa retrospectiva, vamos relembrar os eventos marcantes da segunda parte da temporada maluca de 2019/2020.
O ano de 2020 já se inicia com a notícia da morte de David Stern, no dia 1º de janeiro, aos 77 anos, em decorrência de uma hemorragia cerebral sofrida no mês anterior. Stern foi o grande responsável pela transformação da liga na potência esportiva mundial que é hoje em dia e por inaugurar a moderna NBA. Ele foi o comissário da NBA de 1984 – ano em que Michael Jordan iniciou sua lendária carreira – até 2014, passando o comando ao seu sucessor, Adam Silver.
No ano em que Stern assumiu a NBA, esta enfrentava dificuldades financeiras e era rejeitada pelo público, que preferia beisebol e futebol americano. Algumas das medidas notáveis de David Stern foram o aumento do número de franquias de 23 para 30, permitindo o aumento da receita da liga e dos jogadores, assim como o estímulo ao apoio de empresas à NBA, assinando acordos com redes de televisão a cabo para renegociar os direitos de televisão com canais americanos. Diante de todo o estrondoso sucesso como comissário, ele foi incluído no Hall da Fama do basquete em 2014.
Já no dia 22 de janeiro, depois de muita espera, o ala-pivô de 19 anos, Zion Williamson, recuperado da lesão no joelho, enfim fazia sua estreia pelo New Orleans Pelicans, em derrota contra o San Antonio Spurs. Em meros 18 minutos em quadra, Williamson anotou 22 pontos – 17 dos quais no 4º quarto, tendo acertado 4 bolas de 3 pontos com 100% de aproveitamento -, 7 rebotes e 3 assistências. Apesar da derrota e do pouco tempo em quadra, Zion deu mostras do grande talento e do enorme potencial que tem a desenvolver ainda, potencial esse que não somente o levou a ser o jovem mais badalado desde LeBron James em 2003, mas também levou a torcida à loucura, animada e esperançosa com o futuro desse jovem time.
Além disso, outro fato histórico aconteceu em janeiro: no dia 25, no jogo entre Los Angeles Lakers e Philadelphia 76ers, em Filadélfia, LeBron James atingia 33.655 pontos na carreira – tendo finalizado a partida com 29 pontos -, se tornando o 3º maior pontuador, atrás apenas de Karl Malone (36.928 pontos) e Kareem Abdul-Jabbar (38.387 pontos), ultrapassando, portanto, Kobe Bryant (33.643 pontos), que postou mensagem na sua rede social parabenizando o amigo pelo feito, incentivando-o a continuar engrandecendo o jogo e o pavimentando para os próximos.
Assim como na vida real, as tragédias ocorrem sem que se esteja realmente preparado para encarar e superá-las, porém, ninguém poderia esperar que depois de um momento tão especial como o presenciado no dia 25, logo no dia seguinte, uma das maiores lendas do basquete e um dos maiores esportistas de todos os tempos fosse nos deixar. No dia 26 de janeiro, Kobe Bryant, aos 41 anos, sua filha Gianna, de 13 anos, e mais sete pessoas faleceram após a queda do helicóptero que os levava a um jogo de basquete da filha. O acidente foi noticiado pouco antes do início da rodada, causando enorme comoção entre os jogadores que souberam do ocorrido durante o aquecimento para os jogos. Um minuto de silêncio foi feito antes da partida entre Denver Nuggets e Houston Rockets. No duelo entre Toronto Raptors e San Antonio Spurs, a equipe canadense deixou o cronômetro estourar nos primeiros 24 segundos, em homenagem à última camisa usada por Kobe. Em seguida, foi a vez dos Spurs repetirem o gesto, que se reproduziu nos jogos dos outros dias.
Kobe Bean Bryant foi um dos maiores jogadores da história dos Los Angeles Lakers, tendo sido 5 vezes campeão, duas vezes MVP das finais, duas vezes medalhista de ouro e o primeiro atleta a conquistar o Oscar de Melhor Curta de Animação em 2017, por Dear Basketball.
Seu legado, dentro e fora de quadra, nunca será esquecido e continuará a inspirar as gerações vindouras, da mesma maneira que inspirou a sua equipe a ser campeã em uma temporada tão complexa e adversa. A “mamba mentality” foi talvez o fator mais importante na conquista do título da franquia angelina: todos os jogadores e a comissão técnica repetidamente declararam que as vitórias e o título eram “por Kobe”. Na verdade, todo o mundo do basquete e do esporte, no geral, se uniu “por Kobe” e ele estará sempre presente no coração dos torcedores e dos jogadores.
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De fato, pouco mais de duas semanas após a sua morte, tivemos um vislumbre do jogo do “black mamba” quando LeBron James, em jogo contra Houston Rockets, no Staples Center, replicou exatamente a mesma enterrada reversa que Kobe havia feito 19 anos antes, no mesmo garrafão, no mesmo ginásio. Após o jogo, LeBron declarou que não havia realmente pré-determinado aquilo até o momento em que pulou e que estava muito feliz por tê-lo feito sendo um Laker. Com certeza, foi uma das jogadas mais bonitas e especiais do ano.
Depois de um mês muito intenso e triste, provavelmente o mais triste de toda a história do esporte, o show continuou e com uma novidade bastante interessante. A equipe de Houston Rockets, depois de trocar seu pivô Clint Capela e trazer Robert Covington, mudava completamente a dinâmica do time e promovia o denominado “small-ball”. É dizer, o time abria mão de ter um jogador de mais de 1.98 m de altura para colocar em quadra 5 jogadores que pudessem arremessar de 3 pontos, dando mais espaço às estrelas James Harden e Russell Westbrook. O small-ball começou fulminante: nenhuma equipe parecia encontrar respostas para acompanhar a velocidade e o leque de opções de jogadas, proporcionado por uma equipe que tirou seus atletas do garrafão e tumultuou as áreas de arremesso de média e longa distância. Todavia, o novo esquema de jogo começou a falhar e, antes da paralisação, o Houston Rockets havia perdido 4 dos 5 jogos, ficando na 6º posição da Conferência Oeste. Caso a equipe texana tivesse chegado às finais dos playoffs, vencendo os times de Los Angeles, talvez se teria decretado a aposentadoria dos pivôs, mas, como se sabe, não foi o que aconteceu.
Na próxima parte da retrospectiva, trataremos do épico All-Star em Chicago, chegando ao momento da paralisação da temporada por conta da pandemia.
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