Espero de coração que você que me lê tenha tido uma ótima noite de Natal e um dia 25 feliz e farto, ou tão farto quanto a atual inflação nos permite. Também espero que não tenha rolado nenhuma desavença com os parentes na hora de ligar a TV e assistir aos cinco jogos de Natal começando depois do almoço e indo madrugada adentro. Espero que a essa altura já seja uma tradição no seu lar ficar vendo uma dose absurda do mesmo comercial sendo repetido à exaustão e, para completar, a rodada de Natal da NBA no ano de 2021 vai ficar marcada por nem você e nem os seus parentes saberem quem são os jogadores em quadra devido às contratações emergenciais.

Deixando a glamourosa NBA de lado, também espero que você tenha ganhado bons presentes. Você, como notório fã de basquete, praticante, comentarista e corneteiro, é daqueles digamos, fáceis de se agradar. Qualquer coisa envolvendo o esporte já vira pretexto para o famoso lembrei de você ou então o achei a sua cara. Nem precisa ser nenhum produto oficial e, portanto, caro. Camisetas com personagens genéricos, chaveirinhos de bola laranja, canecas (nunca falham!) e até as polêmicas meias. Tendo basquete, você fica feliz.

Vou contar pra vocês uma história de basquete e amigo oculto. Lá no final do meu Ensino Médio (imagine, leitor, que tenha sido semanas atrás), a turma muito dentro do espírito fraterno de despedidas e nostalgia antecipada, cismou de querer marcar uma confraternização com amigo oculto. O professor de Geografia, também chegado numa festa, deu a maior força. Ia com a gente na pizzaria e tudo. Pois muito que bem: estabelecemos o limite de valor do presente, sempre atentos ao orçamento quase que inexistente de jovens adolescentes, fizemos o sorteio na base do papelzinho mesmo e marcamos data e hora.

Lá no dia, depois de muitos pedaços de pizza e copos de refrigerante no refil, começamos a troca dos presentes. Peço desculpas ao meu amigo ou amiga oculta pois agora não me lembro quem era você, mas espero honestamente que tenha gostado do presente, o qual eu também não lembro o que era. Contudo, eu consigo me lembrar com clareza que quem tirou o papelzinho com meu nome naquela vez foi o Marcos. Não temos tido tanto contato pós-escola porque a vida tem dessas coisas. Mas posso dizer que o Marcos é um cara legal até não poder mais. Era naquela época e segue sendo até hoje. O Marcos trouxe o seu presente embrulhado num saco plástico daqueles brilhantes, amarrado com fita. 

Creio que até hoje eu não vá conseguir descrever muito bem qual foi a sensação de desembrulhar, com curiosidade, aquele presente. Nem vá conseguir transmitir direito ao leitor o tamanho do sorriso que eu dei quando descobri o que era. Pois o meu presente era redondo, com aquele granulado ao contato com a mão. Não era laranja, mas alternava azul, branco e vermelho. Sim, era uma bola de basquete. O Marcos estourou o limite de valor da brincadeira para me dar aquele presente que me trouxe na adolescência, algo de criança na noite de Natal.

Porque aquela bola era minha amiga “oculta”. Até então eu tinha deixado a minha relação de amor com o basquete para trás, lá na infância. O insucesso e a pouca popularidade do esporte nas aulas de Educação Física tinham me tirado um pouco do entusiasmo. Mas ter aquela bola de repente ali, como se ela estivesse olhando para mim e sussurrando no meu ouvido e aí? Vamos?, mexeu comigo de uma maneira que talvez o Marcos nem soubesse que faria. Me agarrei à bola e sussurrei de volta: vamos.

E fomos. E nunca mais voltamos. Obrigado, Marcos. Feliz Natal, galera!

A imagem de capa da coluna de hoje traz um registro da minha adolescência (estou falando de dois dias atrás, é claro) com a bola mencionada no texto. A imagem seguinte traz mais uma vez eu sustentando a organização Miami Heat ganhando presentes relacionados à franquia – Padre Miguel e Bangu, respectivamente – Rio de Janeiro – RJ

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