Em 1972, no auge da chamada Guerra fria, os Estados Unidos enviaram à China de Mao Tse Tung uma delegação cuidadosamente selecionada para restabelecer os laços de diplomacia entre as duas nações. Aquela delegação seria marcada como os primeiros estadunidenses a pisarem em solo chinês após 22 anos. A delegação? Um time de tênis de mesa, ou o nosso carismático “pingue-pongue”.

Legal, legal, mas cadê a pelada? Explico-me, impaciente leitor. Veja bem, no momento em que eu escrevo, o Brasil passa por algumas “tensões” com outras nações, para não entrar em muitos detalhes. Nossas relações diplomáticas com a própria China, os Estados Unidos, a França e a Alemanha não andam lá essas coisas. Pois bem, baseado na história mundial e na minha história pessoal, eu sugiro retomarmos nossos laços com esses países chamando-os para uma partida de basquetebol. Igual ao Pernalonga.

A começar pelo Ibirapuera, onde joga o Monsieur Olivier. Topei com o Olivier uma vez na vida, é verdade. Mas sabe como é, gosto dos franceses porque qualquer coisa eles vão lá e fazem uma bandeja (ou algo assim). Monsieur Olivier é um francês tão brasileiro, mas tão brasileiro, que toda vez em que eu tentava gastar um pouco do meu francês com ele, era solenemente ignorado. Olivier fazia questão de praticar o seu português, com uma predileção especial pelos palavrões. Merde, allors!

Já aqui no Rio de Janeiro temos o internacionalíssimo Aterro do Flamengo. Por ali eu já encontrei Mr. Não-Me-Disse-O-Nome, que me revelou ser de Atlanta, quando eu perguntei de onde ele era usando todo o meu vocabulário do Teens One. Pense numa pessoa que exalava toda a aura dos ghettos batendo bola ali na sua frente, com o Pão de Açúcar ao fundo. Não existe Assembleia da ONU que resista a um espetáculo desses. 

Os chineses do Aterro do Flamengo também são um capítulo à parte. A nossa desunião enquanto um povo nos últimos anos deve envergonhar os chineses que ali frequentam. Chegam em bando, separam uma quadra só para eles, te olham torto quando você cisma de querer jogar junto. Existe uma regra não dita no Aterro do Flamengo sobre a quadra dos chineses: uma vez que eles tomam conta da quadra, é como se existisse uma Grande Muralha ao redor dela. Um “Brasil X China” no Aterro do Flamengo valendo a retomada das exportações salvaria a economia brasileira, além de proporcionar um entretenimento de muita qualidade.

Por sua vez, os nossos queridos germânicos, apesar da carranca e do idioma que parece uma sucessão de insultos e cuspidelas, só querem ser acolhidos. Como aquele alemão que certa vez deu de cara com meu amigo Mario, que tem cara de viking mas um pé em Realengo, e quis abraçá-lo e tudo. Mario, muito desconsertado, negou o abraço do alemão falando no, no, no, Brazil, Brazil, deixando nosso freund um pouco triste e sem carinho. 

Pois façamos igual ao João, tijucano da gema, que foi até a Áustria, conheceu a querida Lisa, casou com ela e a trouxe ao nosso querido Brasil, mais especificamente Padre Miguel, mais especificamente Vila Vintém, para ver uma pelada de domingo e torcer pelo mozão! Nada mais diplomático, é claro. Tudo que a nossa querida austríaca precisava naquele domingo de sol era uma sombrinha. Para completar, uma ida à feira, para ser apresentada a uma iguaria brasileira chamada caldo de cana. Ao bebericar o primeiro gole, Lisa sentenciou, com surpresa: It’s cold. É gelado!

Confiem, meus amigos. Tragam os gringos para jogar pelada e o Brasil nunca mais passa vexame!

Foto do famoso Mario, quase alemão, na quadra da Igreja Batista Betânia – Sulacap – Rio de Janeiro – RJ

A imagem de capa desta coluna foi tirada no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro-RJ. Nela, temos o timaço do projeto Mulheres em Quadra, que faz um trabalho maravilhoso criando espaço para mulheres praticarem basquete. Você pode conhecê-las no Instagram e no Facebook.

Sobre a inusitada história da delegação de tênis de mesa dos Estados Unidos indo à China, você pode ler mais nesse artigo de Beatriz Bernardi publicado na Gazeta Vargas, da FGV:

https://www.gazetavargasfgv.com/post/forrest-gump-ping-pong-guerra-fria-e-olimp%C3%ADadas

Confira nossa última Pelada de Domingo