“Chapa, desde que cê sumiu
Todo dia alguém pergunta de você
Onde ele foi? Mudou? Morreu? Casou?
Tá preso? Se internou? É memo’? Por quê?”
(Emicida – Chapa)
Acho engraçado os momentos em que o basquete profissional, obviamente entediado pelo excesso de profissionalismo, imita o que acontece nas peladas mundo afora. Veja o polêmico Kyrie Irving, por exemplo. No início do ano deu um mega perdido no time e não apareceu para os treinos, partidas e tudo mais. A temporada seguinte mal começou e o risco da mesma coisa acontecer outra vez é grande. Nada de novo, é claro. Vamos lembrar do emblemático Dennis Rodman pedindo na cara dura um descanso de 48 horas onde ele saiu correndo (literalmente) para pegar o primeiro vôo rumo a Las Vegas.
Como eu disse, nada de novo. É o que a gente mais vê na pelada, só que sem as multas milionárias. Poxa, cadê fulano? Sumiu!, ou sabe ciclana? Pô, nunca mais…, sendo que o nunca mais tem sempre aquela entonação de bons tempos que não voltam mais, quase uma lágrima caindo do olho enquanto calçamos os tênis. Claro que ninguém pergunta os motivos do sumiço de fulano e ciclana, porque ninguém quer solucionar o mistério, o negócio é lamentar. Pode ter um ou outro fofo… digo, bem informado, que saiba do paradeiro dos nossos peladeiros profissionais.
Tem quem foi vencido pela dura realidade da vida que, tão cringe, exige o absurdo de se trabalhar para pagar as contas. Nem sempre o trabalho é tão compreensivo com os nossos horários de lazer. Há também o caso de quem foi vencido pelo próprio corpo. Uma dorzinha aqui, outra ali, pô, tô fora de forma… Vai da pessoa o quanto ela está disposta a remediar a própria situação. Família também sempre entra na conversa. A macarronese de domingo, um passeio com as crianças, uma atençãozinha a mais para o “mozão”. E claro, fica aí aquela menção honrosa ao maior sumidouro dos atletas de fim de semana: a cama.
E tem também aquela parcela dos sumidos que não dão o braço a torcer quanto ao próprio sumiço e promovem o próprio retorno de tal maneira que ele é tão aguardado quanto a Copa, as Olimpíadas ou o retorno de Jesus. Você encontra ele ou ela na rua e lá vem aquele papo furado de saudade de jogar uma pelada com vocês. Bora marcar um dia desses… Sabemos que um dia desses e nunca são perigosamente sinônimos um do outro. Tem o sumido tão categórico que chega a ter a cara de pau de cobrar dos outros sumidos que eles apareçam, para não deixar a pelada morrer, sendo que normalmente quem assassina a pelada é sempre aquele que alerta para o perigo de morte. Pronto. Marcado o basquete de reencontro, quase sempre em feriado, quem é justamente o sumido que continua sumido? Exato, o sumido que marcou.
E não vamos deixar de louvar também aquele que contraria todas as expectativas. Ele é quase sempre um sumido de Whatsapp, aquele que você quase não se recorda mais da cara do sujeito, mas o nome dele sempre aparece lá no grupo dando a maior força para marcar. Puxando muito pela memória, você até lembra dele. Ah, é aquele gordinho para quem ninguém passava a bola e ficava brigando pelo rebote com muita vontade, pode crer! Aí vocês cismam de marcar a tal da pelada de reencontro. Todo mundo falando para pegar leve, maior tempão sem jogar, aquelas coisas. Aí chega o gordinho. Só que ele nem mais gordinho é. Ele virou quase um garoto propaganda de academia, chega com sua regata valorizando os músculos recém-definidos e sua garrafinha d’água que você sabe que está acostumada a carregar shakes de suplementos. E aí, galera? Vamos jogar?, cumprimenta o ex-gordinho.
Vai vendo, sumido… vai vendo…
Dedicada ao amigo Bruno Machado, que de sumido passou a me cobrar pelo meu sumiço.