Eu sempre fui fã de LeBron James, mas também sempre apreciei outros grandes jogadores e foi assim que, em 2016, ao mesmo tempo em que eu acompanhava os Cavs de LeBron e Kyrie, o Russell Westbrook do OKC me chamou muito a atenção. Era um jogador muito ágil, atlético, rápido, competitivo e parecia se multiplicar em quadra, fazendo um pouco de tudo. Sabemos que, naquele ano, eles perderam as finais da Conferência para os Warriors, depois de estarem liderando por 3 a 1, resultado que me deixou triste, confesso. Desde então, segui acompanhando o Westbrook, em Oklahoma, em Houston nessa última temporada e onde quer que ele acabe decidindo (ou sendo trocado) jogar.

Quando passei a acompanhar a NBA esse ano no Twitter, por meio de vários perfis de torcedores de times, assistindo vídeos, lendo comentários em tags durante e depois de jogos, percebi algo que nunca tinha imaginado: grande parte dos fãs de basquete parecia odiar o Westbrook. Suas atuações eram constantemente criticadas, ele era alvo de muitos memes – até foi apelidado de WesTO, por conta da alta incidência de turnovers que ele cometia – e a maioria dos comentários sobre ele era negativa. Eu não entendia e sinceramente não sabia o porquê disso, pensei que talvez antes ele pudesse ter dito ou feito algo fora de quadra que “justificasse”, de certa forma, toda essa negatividade, ou até que tivesse feito algo muito repreensível durante algum jogo. Então, resolvi pesquisar um pouco mais a fundo.

“O único momento em que Westbrook não tem a bola”. Meme ironizando a fama de “fominha” de Westbrook. FOTO: NBA MEMES.

“Se Trump quiser construir um muro, ele só deveria chamar Russell Westbrook”. Meme que ironiza os problemas ofensivos de Westbrook na temporada de 2018. FOTO: NBA MEMES.

E depois de ler vários artigos – alguns escritos em 2014, por exemplo – e ver vídeos no Youtube, eu cheguei a duas conclusões: a primeira é que existem, de fato, vários textos e posts em blogs sobre esse tema – “Por que Westbrook é tão odiado?”, “Seria Westbrook um jogador subestimado?” -, o que comprova que realmente se viu a “necessidade” de escrever a respeito do hate direcionado ao Westbrook e que esse hate é real; a segunda é que não há nada que realmente o explique.

Em um post no Reddit, de 2018, alguns comentários que li eram de que Westbrook era arrogante, convencido, rude com a imprensa, odiado pelos fãs dos Warriors por conta de Kevin Durant e pelos fãs do Rockets por conta de James Harden e da disputa entre os dois pelo MVP em 2017, vencida por Westbrook. O comentário mais interessante foi na verdade o de que a mídia “prefere” aqueles que são falsamente humildes, mais comportados e acredito que é um posicionamento interessante, com aquele “fundo de verdade”. Westbrook é, muitas vezes realmente, impaciente nas coletivas, dá respostas grossas e tem uma expressão corporal muito transparente quando não gosta das perguntas. Isso faz com que obviamente ele se torne alvo fácil dos jornalistas e de artigos negativos sobre sua atitude e personalidade, mas sabemos igualmente que muitos dos atletas – e até dos técnicos – da NBA têm pavio bem curto nas entrevistas, principalmente depois de derrotas. Quem não se lembra da cena icônica de LeBron se levantando depois de uma pergunta, sem respondê-la, pegando a sua malinha e saindo tranquilamente da sala? Assim, o comportamento de Westbrook com a imprensa não é o suficiente para explicar todo esse ódio.

É claro que existe aquele fenômeno clássico de que ser bom sempre vem acompanhado de ter haters, inclusive Kobe Bryant uma vez afirmou que “haters são um bom problema para se ter. Ninguém odeia os ruins, eles odeiam os melhores” e a verdade é que Russell Westbrook é bom, muito bom. Westbrook é nove vezes All-Star, duas vezes All-Star Game MVP, em dez temporadas. Ele foi ainda o primeiro jogador a ter uma temporada com média de triplo duplo em 50 anos, depois de Oscar Robertson. E ele não fez isso apenas uma vez, mas três vezes seguidas, entre 2016 e 2019. No jogo de 03 de abril de 2019, contra os Lakers, Westbrook anotou incríveis 20 pontos, 21 assistências e 20 rebotes, o segundo jogador na história a ter jogo de 20-20-20, o outro havia sido Wilt Chamberlain, em 1968. Ele é uma máquina de triplo duplo e antigamente se valorizava demais essa estatística, pois ela é um atestado de um ­all-around game.  Então, por que, hoje em dia, olhamos com tanta negatividade e desdém para esses dados?

Alguns alegam também que ele é egoísta, busca as estatísticas, muitas vezes “roubando” rebotes de seus companheiros e não criando as melhores jogadas possíveis para eles, sendo descuidado em quadra e responsável por diversos turnovers. Mas a verdade não é bem essa: ele pode, de fato, criar várias vezes as jogadas erradas, se descontrolar em quadra, gerar muitos turnovers, porém, ao mesmo tempo, ele é um ótimo armador, tendo liderado a liga em assistências em 2018, com 10,3 por jogo, e sempre defendeu fortemente seus companheiros, evitando certa vez, por exemplo, em uma coletiva, que um jornalista fizesse uma pergunta a Steven Adams, seu companheiro em OKC, que dava a entender que o nível da equipe não era bom o suficiente quando Westbrook ia ao banco. Westbrook então interrompeu o jornalista e disse que ele não os separaria, que todos eram um time.

Hoje, os bastidores do Houston Rockets, pós derrota para os Lakers na semifinal dos playoffs, têm sido caóticos, com rumores de que Harden e Westbrook querem sair do time e, de acordo com informações de jornalistas, o mercado não está muito receptivo à Westbrook – em parte por conta de seu alto salário -, com interesse apenas de Charlotte Hornets, New York Knicks e Washington Wizards, três times não muito competitivos. Mesmo com 32 anos, Russell Westbrook é ainda muito explosivo, dominante no garrafão e na transição. Sem Harden em quadra, ele teve média de 34 pontos, 10,4 assistências e 8,1 rebotes, o que demonstra que ele ainda pode ser muito produtivo no papel de protagonista.

Eu acredito que talvez a melhor explicação é que ele seja grandemente subestimado, uma matéria-prima desconhecida, e muito disso por conviver na mesma era de outros incríveis jogadores, como LeBron James, Kevin Durant, Stephen Curry, o próprio James Harden e por aí vai, de modo que fica à sombra de todos esses. Num mundo ideal, todos seriam capazes de apreciar a grandeza de cada jogador, sem diminuir o brilho de outro, mas a vida real é completamente diferente e as pessoas não conseguem enaltecer alguém, seu favorito, sem sentir que seja necessário, como numa correlação lógica, “desprezar” os seus adversários. Há sempre esse desejo de criar rivalidades, de opor um herói ao seu antagonista, de buscar o “malvado”, o vilão. E as redes sociais, com toda a certeza, maximizaram tudo o que há de pior no ser humano, essa violência interna que acaba se manifestando sob forma de ódio.

O mantra de vida de Westbrook é “Why not?”, então me aproprio do seu mantra e pergunto: por que não fazer diferente? Por que não tentar apreciar esse jogador único enquanto ele ainda joga? Por que não se esforçar para romper os estereótipos criados em torno dele e conhecer a pessoa maravilhosa que ele é? Existem dois Russell Westbrooks, o jogador e o homem, pai, filho, esposo, e ambos são incríveis. Ele é o cara que, ao sair da bolha, deixou uma alta gorjeta aos funcionários em agradecimento; ele é o cara que liga para os pais, com quem fala todo dia, e irmãos antes de todos os seus jogos; ele é o que se fantasiou de Steven Adams para o Halloween e que é constantemente zoado por seus colegas por causa de seus looks excêntricos; ele é totalmente dedicado à esposa e vai a eventos familiares de funcionários do time, aparecendo em jogos de futebol e de hóquei dos filhos deles. Ele usa a camisa 0 porque entende que quando se passa por algo, se busca um novo começo, escolhendo o número 0 para tal. Um novo começo, um nova oportunidade de fazer diferente.

Russell Westbrook chegando ao ginásio com um de seus looks excêntricos. FOTO: Reprodução Instagram / Russell Westbrook
Russell Westbrook, sua mulher Nina e seu filho Noah, customizados para o Halloween de 2017. FOTO: Reprodução Instagram / Nina Westbrook
Russell Westbrook se fantasia de Steven Adams, seu companheiro em OKC, para o Halloween, em 2015. FOTO: Reprodução Twitter / Steven Adams

Chegou a hora de parar de odiar Russell Westbrook e começar a apreciar a grandeza que ele traz dentro de quadra e fora dela, pois poderemos não ver mais alguém como ele. Abrace a grandeza, por que não?