Na terceira parte dessa retrospectiva vamos abordar o épico All-Star em Chicago, o fim de semana digno de playoffs e, por fim, a suspensão da temporada por conta da pandemia.

Quase um mês após a morte de Kobe Bryant acontecia a 69ª edição do All-Star Weekend, em Chicago, com todos os olhos voltados para o All-Star Game no domingo, protagonizado pelo time LeBron – que vestiria a camisa 2 em homenagem ao número usado pela filha de Kobe, Gianna – e pelo time Giannis, com o jersey de número 24, em homenagem à última camisa de Bryant. Essa era a 16ª aparição de LeBron James no All-Star, o terceiro jogador com o maior número de participações, somente atrás de Kareem Abdul-Jabbar (19) e Kobe Bryant (18). Antes de explicar as alterações promovidas no jogo das estrelas, com o intuito de homenagear Kobe e que fizeram com que a partida fosse a mais competitiva e que esse fosse o mais incrível All-Star de todos os tempos, vamos relembrar os eventos de sexta e de sábado que a antecederam.

Na sexta-feira, dia 14 de fevereiro, houve o “Raising stars challenge”, entre o time Mundo e o time dos EUA, que venceu a partida por 151 a 131. O que realmente marcou o evento, todavia, foi a bomba de meio de quadra de Luka Doncic – causando uma reação hilária de seu adversário Trae Young -, assim como as enterradas monstruosas, sobretudo dos dois novatos Ja Morant e Zion Williamson.

Já no sábado, dia 15, o “Skills challenge” viu a final ser disputada entre os bigs Bam Adebayo e Domantas Sabonis. O ala-pivô do Miami Heat foi mais veloz e acertou o arremesso de 3 pontos antes do seu adversário, consagrando-se campeão do torneio.

Já o torneio de arremesso de três pontos foi vencido por Buddy Hield, que acertou quatro das cinco bolas especiais, que valiam dois pontos. Contudo, dentre todos os eventos de sábado, o torneio de enterradas foi o que teve mais destaque, tendo em vista que sua decisão final gerou bastante controvérsia. Vale antes registrar o momento especial em que Dwight Howard, em tributo a Kobe – que tinha aceitado participar do desafio com o pivô -, usando a camisa do “Superman”, apelido pelo qual ficou conhecido, com o número 24, voltou ao torneio depois de tê-lo vencido em 2008. Na ocasião, Howard se vestiu de Super-Homem e se tornou o jogador mais alto da história a conquistar o troféu, protagonizando uma das aparições mais memoráveis do torneio.

A batalha entre Derrick Jones Jr. e Aaron Gordon foi muito divertida, propiciando, a cada rodada, enterradas de estilos diferentes que levavam o público e os demais jogadores à loucura. Na rodada final, Aaron Gordon simplesmente passou por cima do jogador do Boston Celtics, Tacko Fall, que tem 2,31m de altura, deixando todos no ginásio boquiabertos, parecendo que a vitória já era sua. Porém não foi o que os juízes pensaram, uma vez que preferiram a habilidade de Derrick Jones Jr., dando a ele maior pontuação e a vitória no torneio, causando espanto entre todos os presentes que não concordaram com o resultado. Mais uma vez Aaron Gordon terminava, injustamente, sem o troféu em suas mãos, declarando em coletiva que nunca mais participaria do torneio.

Enfim chegamos ao All-Star game de domingo, que prometia ser um jogo bastante emotivo e competitivo, diferentemente das edições anteriores nas quais os jogadores se esforçavam mais em demonstrar jogadas de habilidade do que em competir, de fato, pela vitória. As regras tinham sido alteradas: o vencedor do primeiro quarto ganharia 100 mil dólares para a instituição de caridade que tivesse escolhido – e se desse empate, cada time receberia 50 mil – e isso se repetiria no segundo e no terceiro quartos. Ao fim deste seria necessário somar os três placares e, em homenagem a Kobe, adicionar 24 pontos sobre a pontuação do time que estivesse liderando e, assim, a equipe que atingisse esse placar em primeiro seria a grande vencedora, recebendo 500 mil dólares. A grande novidade era que não havia tempo definido na última parcial, podendo atingir-se o resultado almejado em mais de 12 minutos. É interessante notar que os números de audiência nos EUA do jogo de domingo foram espetaculares, atingindo uma média de 7,3 milhões de telespectadores na TNT e TBS. Só no último quarto, sem interrupção de cronômetro ou para comerciais de TV, a média foi de 8 milhões de telespectadores.

Nos três primeiros quartos o jogo das estrelas seguiu basicamente o mesmo roteiro dos jogos das edições anteriores: defesas não tão firmes, jogadas incríveis de habilidade, enterradas, dribles, nada além do que já se esperava. Contudo, com a alteração das regras, o quarto período foi um verdadeiro espetáculo: o time Giannis começou com 9 pontos de vantagem e só precisava fazer 24 pontos, chegando a 157. Assim, o time LeBron começou com tudo para correr atrás do prejuízo e, depois de alguns minutos, o placar era de 155 para o time Giannis e 156 para o time LeBron. Estava configurado um jogo real, nervoso, tenso, em que os titulares não saíam de quadra e nos últimos minutos a tensão foi aumentando e foram vistas cenas de jogos de temporada regular: reclamação com os árbitros, timeouts para armar jogadas, turnovers, jogadores cavando falta. E em uma troca na marcação Anthony Davis estava sendo defendido pelo “baixinho” Kyle Lowry, conhecido na liga como um bulldog, de modo que LeBron, ao ver o “miss match”, lançou a bola para o seu companheiro, que sofreu a falta. Davis errou o primeiro lance livre, mas acertou o segundo e deu a vitória à sua equipe. O renomeado Kobe Bryant All-Star MVP do jogo foi Kawhi Leonard, com 30 pontos e 8 bolas de três pontos convertidas. O novo formato propiciou um jogo épico e extremamente competitivo, o melhor de todos, em uma homenagem perfeita ao Black Mamba.

Depois da loucura do fim de semana em Chicago a temporada seguiu normalmente seu curso e, uma semana antes da paralisação da temporada, os fãs puderam apreciar dois confrontos entre potenciais candidatos ao título. No mesmo fim de semana o Lakers enfrentava o Milwaukee Bucks – líder da Conferência Leste – na sexta-feira, dia 06 de março, e seu rival Clippers, no domingo. No jogo tenso contra os Bucks as defesas se destacaram e vimos um duelo incrível entre Giannis e LeBron, mas este último foi o grande destaque do jogo, com 37 pontos – contra 32 da “fera grega” – e selou a vitória da equipe do Oeste. Dois dias depois, em outro jogo bastante nervoso, mais uma vez the King foi o melhor em quadra, com 28 pontos. Muitas eram as dúvidas cercando os Lakers, desde o início da temporada, quanto à real possibilidade de serem campeões, ainda mais depois de terem perdido vários jogos contra candidatos aos títulos. Depois dessas duas vitórias, não restavam mais dúvidas da força da franquia angelina.

Mas a temporada 2019/2020, sendo a mais maluca e imprevisível de todas, reservava ainda muitas emoções. Poucos dias depois desse fim de semana incrível digno de playoffs, a NBA anunciou a suspensão dos jogos por tempo indeterminado, no dia 11 de março, após a confirmação de que Rudy Gobert, do Utah Jazz, havia testado positivo para o coronavírus. O duelo entre o Utah Jazz e o Oklahoma City Thunder foi adiado quando os jogadores já estavam em quadra. Algumas partidas naquele dia, mesmo depois do anúncio, seguiram até o fim. Rudy Gobert, a peça central que desencadeou toda a confusão, havia ironizado, dois dias antes do seu teste positivo, os protocolos para evitar o contágio, esfregando propositalmente as mãos nos microfones dos repórteres após deixar a sala de coletivas. Essa atitude viralizou e causou grande desconforto na equipe, uma vez que Donovan Mitchell, a grande estrela do time, também testou positivo e outros jogadores admitiram que Gobert estava sendo descuidado no vestiário. É aquela velha história de que o mundo não gira, ele capota…E enquanto ele capota, a NBA estava suspensa até segunda ordem.

Em meio a toda essa confusão, Vince Carter, aos 43 anos e em seu último ano como profissional, único jogador a participar de quatro décadas de liga – ele estreou na NBA na década de 90 – e com carreira recorde de 22 anos, foi homenageado por seus torcedores ao final da partida entre Atlanta Hawks e New York Knicks, uma vez que todos já haviam sido informados sobre a suspensão da temporada e ninguém sabia se ela continuaria. E acabou sendo, de fato, um ponto final na carreira de Carter, que merecia uma despedida à altura de seu legado.

Na última parte da retrospectiva da temporada abordaremos a “bolha” em Orlando criada com sucesso pela NBA, possibilitando a volta e a conclusão da temporada.

Eu sou a Paola Mardini e não deixe de acompanhar a coluna No estouro do cronômetro toda sexta-feira.