Culpa de Stewart? Jamais. Erro da Sports Illustrated? Talvez. Não é um prêmio desmerecido, ao mesmo tempo que não era o mais coerente.

Por Isabella Mei.

Breanna Stewart com a camisa do Black Lives Matter durante a última temporada. Créditos: Ned Dishman/NBAE/Getty Images

2020 foi um ano insano dentro do mundo esportivo, mas não só pelas novidades que uma pandemia trouxe. Os gritos por justiça social foram marcantes do basquete até a Fórmula 1, e na conclusão desse ano extremamente engajado, a revista estadunidense Sports Illustrated nomeou cinco atletas como a Sportsperson of the Year. Breanna Stewart, do Seattle Storm – e MVP das finais –, foi uma das escolhidas ao lado de Naomi Osaka, LeBron James, Patrick Mahomes e Laurent Tardif.

A premiação dos atletas de 2020 foi baseada na premissa de que os escolhidos foram “campeões em todos os sentidos da palavra”: dentro de campo (ou quadra) e agentes pela mudança fora dele. Um detalhe importante é que o prêmio era chamado Sportsman of the Year (atleta masculino do ano) e teve o nome alterado para Sportsperson para incluir as mulheres que ganharam. Desde sua primeira edição em 1954, apenas oito mulheres e um time feminino foram escolhidos. Apesar de duas mulheres serem eleitas, sendo Stewart a primeira atleta da WNBA, a escolha gerou uma controvérsia.

Falemos da escolha de Breanna Stewart, campeã junto com o Seattle Storm em 2020 e 2018, eleita a MVP das finais e com uma temporada impecável dentro de quadra. Fora dela, Stewie também é uma potência: em 2017 revelou que foi vítima de abuso sexual em uma carta motivada pelo movimento #MeToo, além do ativismo declarado que sempre a acompanha. Stewart vem se tornando a cara da WNBA e sua palavra vale muito, principalmente por ser uma das melhores jogadoras da liga. Quando expressou seu desejo de que as quadras fossem pintadas com o slogan Black Lives Matter, ela declarou seu papel como aliada à luta contra o racismo, porém é isso que Breanna, uma mulher branca, pode ser: uma aliada.

Tweet do Seattle Storm – time de Stewart – parabenizando-a pelo prêmio

Estamos falando de 2020, o ano em que o assassinato de George Floyd incendiou as ruas dos Estados Unidos em um grito exausto por justiça. Estamos falando do ano em que Breonna Taylor foi assassinada dentro de sua casa por policiais. O mesmo ano em que, enquanto a bolha de Orlando acontecia, Jacob Blake foi alvejado com sete tiros pela polícia. Todos mortos por uma violência policial brutal. A WNBA, sempre engajada e atenta às militâncias, dedicou uma temporada inteira às campanhas Say Her Name e Black Lives Matter. Mas não só isso, pois diversas atletas da liga – que é majoritariamente composta por mulheres negras – se posicionaram sobre o assunto avidamente.

Algumas dessas atletas tiraram o ano de 2020 para se dedicarem à luta ativamente. Natasha Cloud, armadora do Washington Mystics, deixou de jogar uma temporada importantíssima em sua carreira por um chamado maior: os movimentos anti-racismo ao redor do país. Não obstante, Maya Moore, ala do Minnesota Lynx e uma das esportistas mais importantes da liga, está ausente desde 2019 em nome da luta por justiça social, além da missão de libertar Jonathan Irons da prisão, depois de 22 anos de uma condenação injusta – o que foi bem sucedido. A WNBA, no geral, decidiu dedicar uma temporada inteira em nome da justiça social, afirmando e repetindo em todos os jogos a importância das vidas negras, e dizendo sempre o nome de Breonna Taylor para que não fosse esquecido.

Natasha Cloud em um ato durante o Juneteenth, em 19 de junho de 2020. Créditos: Michael A. Mccoy/Getty Images

A escolha de Breanna Stewart como uma das atletas do ano está dentro de uma controvérsia: todos amam Stewie e enxergam sua relevância como uma mulher lésbica, uma das melhores atletas da WNBA e uma voz engajada. Ao mesmo tempo, estamos em 2020, e premiar uma mulher branca pelo apoio que ela deu às pautas de justiça social é controverso, sabendo que muitas mulheres negras têm papel e voz central nesse movimento. Culpa de Stewart? Jamais. Erro da Sports Illustrated? Talvez. Não é um prêmio desmerecido, ao mesmo tempo que não era o mais coerente.

O título de Sportsperson of the Year já foi para seleção de futebol feminino em 1999, para o Boston Red Sox em 2004 e foi do Golden State Warriors em 2018. Então, por que não nomear a WNBA no geral em 2020, sabendo de todo o histórico ativo dos times e atletas em nome da justiça social? Em uma tentativa de ser o mais inclusiva o possível, a revista não se atentou que premiar pessoas pelo apoio, em um ano efervescente, não é mais suficiente. Era a hora de premiar as vozes centrais da questão: as mulheres negras. Era o momento de reconhecer a ação dessas mulheres. Um prêmio nesse momento seria uma forma de dizer “a luta de vocês está surtindo efeito. Suas vozes estão sendo ouvidas”.