No dia 11 de março, a NBA foi suspensa por tempo indeterminado, o que significava que ninguém sabia quando e se ela voltaria, sendo grande a possibilidade de que, pela primeira vez, a temporada se encerrasse antes do seu fim. Logo após a paralisação, o que se via nos noticiários eram números – assustadores – e mais dados de contágio e de mortes. Ninguém estava preparado para o vírus, ainda menos para ficar isolado em casa, esperando alguma novidade positiva que não vinha e, até o momento, ainda não veio. Nesse período, os EUA também viveram momentos de extrema tensão social após a morte de George Floyd, deflagrando protestos em todo o país por justiça e combate ao racismo. Inúmeros jogadores da liga participaram dessas manifestações, demonstrando todo o seu ativismo político e social, o que voltaria a ser o centro das atenções mais vezes ao longo do ano.

Depois de muitas incertezas e rumores, no início de julho se confirmava que a NBA retornaria numa “bolha”, na Disney, em Orlando, e no dia 30 de julho, a competição estava oficialmente de volta, com o jogo entre Lakers e Clippers. 22 das 30 franquias – com no máximo 17 jogadores no seu plantel – foram à bolha e seriam jogadas oito partidas para encerrar a temporada regular e dar início aos playoffs.

Interessante notar que os jogadores foram instruídos a não lamber os dedos, cuspir e trocar camisas após os jogos, mas o que mais chamou a atenção foi a regra de não mexer no protetor bucal e ressalto isso porque é extremamente comum – ainda mais para quem assiste os jogos do Stephen Curry, por exemplo – ver os jogadores de basquete tirando o protetor bucal em qualquer oportunidade, o que chega a ser irritante, muitas vezes, além de anti-higiênico, claro.

Curry com o protetor bucal na mão em discussão com o árbitro. Foto: Esporte IG.

As grandes atrações da retomada foram o Phoenix Suns, a “Cinderela” da bolha, e as atuações a la Jordan de T.J. Warren, ala do Indiana Pacers. Os Suns foram lanternas nas três temporadas anteriores e pensava-se que seriam meros turistas na Disney, mas Devin Booker & cia tinham outros planos. De fato, foram a única equipe invicta, vencendo todas as oito partidas disputadas no retorno, com direito a um buzzer beater fantástico de Booker contra os Clippers, mas ficaram de fora dos playoffs por muito pouco.

Outro momento memorável digno de conto de fadas foi a surpresa feita aos jogadores – a entrada em quadra não foi dita, como de costume, pelo locutor dos times, mas sim por familiares dos atletas. Mya, irmã de Booker, foi quem o anunciou, em um dos momentos mais emocionantes da bolha.

Quanto ao Jordan Warren, os fãs puderam assistir performances assustadoras do ala que, antes da paralisação, tinha média de 18,7 pontos, e que na bolha passou a ser de incríveis 34,8. Warren, inclusive, teve partidas de 50 pontos ou mais, com aproveitamento de 60,5% nos chutes de quadra e de 55,6% nas bolas de três.

Como já reiterei várias vezes antes, esse ano maluco propiciou momentos ainda mais insanos. Depois de 22 anos – desde 1996/1997, que foi a primeira temporada com Gregg Popovich no banco -, o San Antonio Spurs não conseguiu passagem para os playoffs. Nestes anos, a equipe conquistou cinco títulos e chegou a uma final. Foi triste ver a quebra de um recorde de uma das mais vitoriosas e especiais franquias da liga, que foi pioneira em ultrapassar a barreira de gênero, contratando Becky Hammon como a primeira mulher com cargo permanente numa equipe técnica da NBA, em 2014. Agora, a maior sequência ativa de playoffs na NBA é do Houston Rockets – oito anos seguidos -, mas para quem tem acompanhado os caóticos bastidores da equipe desde a derrota para o Lakers na semifinal da conferência, talvez essa seja mais uma sequência a ser quebrada na próxima temporada.

Hammon em ação pelos Spurs. Foto: Eric Gay / AP

Além disso, uma das melhores novidades na bolha – e que será reproduzida na próxima temporada – foi o play-in, um “mini torneio” que permitiu o desempate entre o 8º e 9º colocados de cada conferência, caso houvesse ao menos uma diferença de quatro jogos entre eles na classificação final, especificando que o 8º colocado deveria vencer apenas um jogo entre eles, ao passo que o 9º, dois. O vencedor do duelo ocuparia assim a 8º posição. O play-in só aconteceu na Conferência Oeste, entre Portland e Memphis, com a vitória do primeiro por 126 a 122 em duelo emocionante.

Depois de duas semanas, a temporada regular se encerrava e, como acontece em todo fim de temporada regular, foram anunciados os vencedores das premiações individuais da bolha. O MVP foi, após receber todos os 22 votos, Damian Lillard, que teve uma média absurda de 37,6 pontos, 9,6 assistências e que registrou o maior número de pontos anotados nos últimos três jogos de uma temporada regular, com 154 pontos no total. Montey Williams, técnico do Suns, sem nenhuma surpresa, foi eleito o melhor da bolha. A primeira seleção eleita contava com Booker, James Harden, Luka Doncic, T.J. Warren, além de Lillard. Já a segunda era composta por Giannis Antetokounmpo, Kawhi Leonard, Cris LeVert, Michael Porter Jr. e Kristraps Porzingis.

A nossa retrospectiva está quase chegando ao fim, mas o melhor sempre fica guardado por último e o melhor do basquete, sem dúvidas, são os playoffs.