A história de um jogador assombrado por lesões

Ao ser anunciada a troca envolvendo Russell Westbrook, estrela do Houston Rockets, e John Wall, talentoso armador do Washington Wizards, grande parte dos fãs foi bastante cética quanto a essa manobra de confiança depositada pela franquia texana em um jogador que não entrava em quadra fazia quase 24 meses.

Confesso que ao ter conhecimento da troca, fiquei muito interessada em conhecer mais da história e da carreira de Johnathan Hildred Wall Jr., principalmente depois de toda a empolgação que a sua estreia na sexta passada gerou nos amantes do basquete. Por isso, resolvi contar mais sobre Wall, mas não ao estilo Wikipédia, e sim destacando certos acontecimentos importantes nesses seus 30 anos de vida.

Como muitos jogadores da NBA, a sua infância foi extremamente difícil: seu pai foi preso e morreu, um mês depois de ser libertado, de câncer de fígado, quando Wall tinha oito anos, obrigando sua mãe a ter vários empregos para sustentar a família. Esse trauma fez com que ele rejeitasse a autoridade dos adultos e desenvolvesse vários problemas de comportamento ao longo da adolescência, chegando até a ser apelidado de “Crazy J”. Ele tinha atuações muito boas no basquete no ensino médio, mas foi excluído da equipe por suas atitudes, sendo transferido para outra escola em que, sob a liderança do técnico Levi Beckwith, começou a trabalhar o seu temperamento.

Também, como muitos outros atletas, anunciou o compromisso com a Universidade de Kentucky e teve um desempenho excelente no único ano em que ali estudou, sendo inclusive introduzido ao seu Hall da Fama em 2017.

“O Grande Wall”. Capa da célebre revista Sports Illustrated de janeiro de 2009.
DeMarcus Cousins e John Wall, então companheiros na Universidade de Kentucky e agora reunidos no Rockets. FOTO: Jim McIsaac / Getty Images

Ao ser selecionado como primeira escolha geral do draft pelo Wizards, em 2010, o armador John Wall iniciou sua carreira profissional e já dava indícios de que o hype criado sobre ele tinha fundamentos, ficando em segundo lugar no prêmio de novato do ano e sendo o terceiro jogador mais jovem a registrar um triplo-duplo.

John Wall em ação pelo Washington Wizards. FOTO: NBAE / Getty Images

Depois de duas primeiras temporadas com bons números, Wall começou a ser assolado pelas várias lesões que o atormentariam ao longo da sua carreira, sendo mais um protagonista daquela clássica e cíclica história do jogador que sofre muitas lesões, luta para se recuperar, volta muito bem e se lesiona de novo. Para ele, superar as lesões seria ainda mais complexo, já que seu estilo de jogo é marcado pela velocidade e pelo atletismo.

Mesmo após essa primeira lesão no joelho, ele assinou uma extensão do seu contrato por cinco anos em julho de 2013, o que demonstra a confiança que a franquia depositava no jogador, considerando também que foi nessa temporada que os Wizards terminaram com a quinta melhor campanha do Leste e se classificaram para os playoffs pela primeira vez em seis anos.

No dia 8 de dezembro de 2014, Wall fez 26 pontos, 17 assistências e sete rebotes na vitória sobre o Celtics por 133-132. Após o jogo, emocionadíssimo, o jogador dedicou o jogo a sua amiga íntima e fã, Damiyah Telemaque-Nelson, de apenas seis anos, que tinha morrido de câncer no início do dia, e deu à sua família todo o equipamento que usou naquela noite, inclusive os sapatos com o nome de Damiyah.

Wall e sua amiga Damiyah. FOTO: Reprodução Twitter / John Wall

Ainda, de 2015 a 2017, John Wall teve média de vinte pontos e dez assistências por jogo e foi ao All-Star game de 2014 a 2018. No início da temporada 2016/2017, mais uma cirurgia nos dois joelhos, limitando a sua atuação nos jogos iniciais.

Mesmo tendo um início de ano difícil, no dia 12 de maio de 2017, Wall ajudou a forçar o jogo 7 na série de 2a rodada contra o Boston Celtics, com cesta de três pontos a segundos do fim.

E, como eu bem adverti, a história é cíclica, então, no final de 2017, Wall sofreu outra lesão no joelho, perdendo nove jogos, mas na sua volta, marcou 30 pontos, liderando o time à vitória.

O ano de 2018 é ainda mais representativo de todo o sofrimento físico de que Wall padece: em janeiro, ele ficou fora por oito semanas por conta de seu problemático joelho esquerdo e, em dezembro – depois de se tornar o terceiro maior pontuador da história da franquia -, ele foi descartado pelo resto da temporada.

Ser atleta é aprender a conviver com o desgaste, as lesões e os fantasmas que elas deixam, mas, verdade seja dita, muitas vezes, também se é simplesmente vítima do azar. No caso de Wall, ele lesionou o calcanhar e depois rompeu o tendão de Aquiles, ao escorregar e cair em casa.

Na sua última temporada, de apenas 32 jogos, teve números interessantes – 20,7 pontos e 8,7 assistências – e que justificam a crença de que ele poderia voltar a um bom nível. Apesar de ter sido negociado envolto em dúvidas quanto ao seu condicionamento e à sua capacidade de retomar o seu característico vigor atlético, a sua estreia pelos Rockets na pré-temporada causou ótima impressão nos fãs e na comissão técnica. Quase 700 dias depois, John Wall estava de novo com a laranjinha nas mãos, em vitória contra o Chicago Bulls, registrando 13 pontos, 9 assistências e cinco rebotes em 19 minutos em quadra.

John Wall e seus companheiros em sua nova “casa”. FOTO: Divulgação Twitter / Houston Rockets

Depois desses “amistosos”, parece comprovado que voltou à ótima forma, tendo declarado que se sente “mais rápido do que nunca”. Lesões roubaram seu auge, mas quem sabe se, saudável e com apenas 30 anos, John Wall, que sempre foi uma força dos dois lados e um armador dinâmico – o líder de Washington em roubos de bolas e assistências -, não consegue enfim encerrar essa história cíclica e aproveitar uma segunda chance de ser feliz jogando o esporte que tanto ama.

O perfil oficial do Washington Wizards fez emocionante vídeo de homenagem e agradecimento ao seu armador John Wall.

Boa sorte, John Wall!