2004 indiana pacers off 60% - bonyadroudaki.com
O Pacers era considerado por muitos, o principal contender ao título da NBA.

Estreou no início do mês de Agosto neste infinito ano de 2021, o documentário ‘Untold: Malice in The Palace’, que se compromete em aprofundar o lamentável episódio em 2004, onde jogadores do Indiana Pacers se envolveram em uma briga com torcedores do Detroit Pistons. O ocorrido foi chamado pela imprensa americana como ‘Malice in The Palace’.

Para além dos detalhes e motivadores da briga no dia em questão, a obra tem como objetivo mostrar a história daquele Pacers, que em seu roster contava com o superstar Reggie Miller, quem teve sua última chance de ganhar seu precioso anel de campeão estragada pelo acontecimento.

No início do documentário somos apresentados para a montagem daquele elenco: Jermaine O’Neal chega ao time após ser draftado pelo Portland, a montagem do roster fica redonda com as chegadas de Ron Artest e Stephen Jackson. O time na época era considerado um dos favoritos para conquistar o título da NBA. Os atributos físicos, defensivos, táticos e técnicos estavam em perfeita harmonia graças aos talentos complementares dos quatro principais personagens do time.

Não vou entrar em detalhes sobre o documentário, até porque é necessário que você tire suas próprias conclusões sobre o acontecido, mas algo que me chamou muita atenção foi como a NBA, na figura do Gerente Geral da época, o David Stern, utilizou o episódio para ir além da punição e coibição da violência, se aproveitando para tentar separar a associação entre a cultura do Hip Hop do “produto” NBA.

O Contexto de Stern e do “Produto NBA”

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David Stern foi fundamental para o crescimento da Liga nos anos 80 e 90.

A NBA nem sempre foi tão glamurosa e teve uma atenção tão grande da mídia como temos hoje. Nos anos 80 o campeonato quase flertou com a falência e pasmem, FINAIS não eram televisionadas para o grande público. O “produto” era irrelevante e os atletas tinham fama de drogados e criminosos, o que deixava as arenas cada vez mais vazias e sem procura por parte dos consumidores da liga.

Em 1984, David Stern assumiu como GM da NBA e promoveu uma série de mudanças. Entre as principais: teste de drogas e o teto salarial. Além disso, contou com 3 milagres: Magic Johnson, Larry Bird e o jovem Michael Jordan. Com seus talentos, as estrelas mudaram a liga de patamar e atraíram as atenções tanto da mídia, quanto do público. E, para alívio da precarizada NBA, chamaram atenção dos patrocinadores.

Após a estruturação e criação de bases sólidas para que a NBA fosse popular nos EUA, o grande fator que contribuiu para a popularização da liga pelo mundo aconteceu em 1992 com o Dream Team nos Jogos Olímpicos. Com a queda da restrição que impedia os jogadores profissionais de atuarem nas olimpíadas, os EUA poderiam contar com sua constelação no jogos de Barcelona e o show dado aumentou ainda mais as atenções para os jogadores e consequentemente para o campeonato em si.

Como você já deve ter percebido, o fortalecimento da liga tinha um objetivo claro: trazer mais investimentos à partir da demonstração de potencial econômico que a NBA poderia ter. Com isso, o foco do Stern era manter os jogadores seguindo suas regras, evitando assim que os principais ativos da liga (os jogadores) não acabassem com a reputação que ele lutou para construir na NBA. Ele só não contava com a virada do século e a ascensão muito forte do hip hop na cultura popular americana.

Practice?

Philadelphia 76Ers Basketball GIF

A NBA teve em Allen Iverson seu principal expoente dessa cultura dentro da liga. Ele levava consigo a representação da cultura de Hampton, sua cidade natal, era totalmente normal vê-lo com correntes, durags e tranças nos momentos pré-jogo.

Sempre quando questionado sobre suas vestimentas, The Answer sempre revidou dizendo que “não se vestia como criminoso, se vestia como alguém de sua cidade”. Já começava uma certa pressão da opinião pública para criar uma imagem marginalizada acerca da forma com que os jogadores se vestiam.

Esse tipo de comportamento incomodava demais a NBA, mas não tinha muito o que eles conseguissem fazer. Allen Iverson além de MVP da temporada 00-01, era Top10 dentro do ranking de uniformes vendidos na época, e lembram que toda essa estruturação do Stern visava trazer maiores lucros para a liga? Pois é, então os comissários se viram de mãos atadas sobre essa questão.

Malice in The Palace e as Medidas Punitivas

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Kobe vestindo o uniforme do seu time da NFL

Após essa confusão (sendo bem bonzinho ao se referir ao que aconteceu), uma série de medidas foram tomadas, suspensões foram aplicadas e o que apitou na cabeça dos manda-chuvas da parada era: como essa briga iria repercutir naquele trabalho todo para construir uma imagem boa da liga poderia ir por água abaixo.

No documentário vemos como a mídia foi reativa ao criar uma imagem associada aos jogadores como marginais e era recorrente que a introdução das matérias se referindo ao caso mencionassem a utilização de correntes, bonés e roupas largas. É válido lembrar que a cultura do rap e do hip hop estadunidense eram bem diferentes do que vemos hoje e se tentarmos trazer algum tipo de paralelo ao que temos por aqui, é mais ou menos como a mídia brasileira trata o funk em seus jornais.

David Stern viu no Malice in The Palace a oportunidade perfeita de não só punir os agressores, como coibir um comportamento que a diretoria da NBA como um todo não aprovada. Uma das medidas tomadas foi a criação de um polêmico dress code. Foram proibidos: camisetas regatas, bermudas, camisas de times, acessórios esportivos, bonés, gorros, bandanas e durags, correntes, pingentes, medalhões, óculos escuros em locais fechados e fones de ouvido (???).

O principal e óbvio argumento dos jogadores contrários às medidas, eram de que as roupas não impactavam em nada na personalidade dos atletas, a pessoa que estivesse disposta a brigar, iria faze-lo independente do que estivesse vestindo. Os principais nomes nesse grupo eram Paul Pierce, Vince Carter e o AI.

A resposta dos jogadores

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A liga foi irredutível e desde a proibição, os jogadores buscam sempre se expressar dentro dos moldes do dress code, sem perder a originalidade e o estilo próprio, o momento da chegada dos atletas hoje em dia, tornou-se um evento que movimenta as redes sociais, ditam tendências de moda e chamam a atenção assim como todo o jogo por si só.

Hoje em dia é totalmente normal vermos imagens dos jogadores viralizando de acordo com um look ou outro que escolhem.

A proibição criou uma nova cultura, mas não mudou totalmente o estilo dos atletas. A motivação para o que pode ser lido como extravagância se dá como forma de resistência a ação tomada em 2005. Atualmente existem muitas flexibilizações e o distanciamento temporal do episódio do Palace faz com que tenhamos algumas “vistas grossas” por parte da liga.

A vestimenta como formas de protesto voltaram muito forte no ano passado, com os eventos do Black Lives Matter e o apoio dos jogadores da NBA para com a maior visibilidade e demandas das atletas da WBNA.

Fato é, o choque entre visões dos jogadores e o que os magnatas das franquias querem, sempre será um motivo de conflito para a continuidade das demandas da liga, diferentemente da época da briga entre Pacers e Pistons, atualmente os jogadores possuem uma voz maior para trazerem suas demandas e batem de frente com mais força com os presidentes de franquias e a organização da liga.

Fica por fim, a indicação do documentário e de uma outra visão acerca do tema. Os jogadores em questão nunca foram ouvidos com tanta profundidade e o recorte que os diretores fazem sobre como a mídia tratou o evento é fundamental para entender como a punição foi baseada nesse medo irrefreável de fazer com que a liga perdesse prestígio.

Se você já assistiu ao documentário deixe seu comentário sobre ele aqui embaixo e caso não tenha assistido, deixe suas lembranças do acontecido e bora trocar uma ideia sobre! Até a próxima o/