“A coroa voltou de além-mar”.
Esse é o significado em Iorubá do sobrenome “Adetokunbo”, que a lenda da NBA Hakeem Olajuwon esclareceu ao portal “The Undefeated” em 2019. Hakeem, que é nigeriano da tribo Iorubá, reconheceu o nome original que num passaporte grego acabou se transformando em “Antetokounmpo”. E é assim que reconhecemos Kostas, Thanasis e ele: Giannis Sina Ugo Antetokounmpo. O mais recente campeão da NBA com o título conquistado pelo Milwaukee Bucks.
O troféu Larry O’Brien se transformou na coroa que voltou de além-mar. Ganhou um novo significado. Assim como outras coisas ao longo dessa caminhada pela temporada 2020-2021 da NBA também ganharam, segundo o idioma que Giannis Antetokounmpo fala em quadra. Algumas delas merecem a nossa atenção.
Ebí: do Iorubá, família
O menino que deixou a Grécia em busca do seu sonho de se tornar um jogador da NBA derramou muitas lágrimas pelo caminho antes de concordar em entrar no avião que atravessaria o Oceano Atlântico e o colocaria como a 15º escolha do Draft de 2013. Giannis nunca deu um passo sequer na vida sem ter a sua família como principal força e objetivo. Quis jogar basquete porque o basquete era aquilo que o faria virar um atleta e trazer dinheiro para os pais e os irmãos. Recusou ofertas de times da Europa porque o levariam para longe da sua família. Até que veio o irrecusável convite para a NBA. A chance de dar uma vida melhor aos seus entes queridos. A chance de anos mais tarde trazer os irmãos para a NBA.
E o menino foi. Com medos, receios, saudades, mas também com determinação. Determinação que o faria mandar todo o dinheiro recebido para família na Grécia a ponto de não sobrar dinheiro para se locomover até o ginásio do seu time.
O menino fez-se homem longe de casa. Fez sucesso na liga. Formou sua própria família. Virou pai. Participou do movimento Black Lives Matter porque queria que o filho crescesse numa cidade, num país melhor.
Giannis não dá um passo sequer sem pensar na família.
χρόνος (chrónos): do Grego, tempo
Dez segundos é o tempo máximo permitido para a cobrança de um tempo livre no basquete. Nem sempre respeitado pela arbitragem. Nem sempre respeitado pelo cobrador do lance livre. Giannis tomou o tempo que precisava.
Giannis tomou o tempo que precisava para se condicionar ao nível físico de um jogador de elite da NBA. A criança que muitas vezes não se alimentava direito por falta de comida, se metamorfoseou em um atleta praticamente imparável em direção à cesta.
Giannis tomou o tempo que precisava para se solidificar como um dos principais nomes de sua geração. 15º no seu draft, Giannis viu atletas escolhidos antes dele terem o seu tempo encurtado enquanto o tempo dele mesmo parece estar só começando.
Giannis tomou o tempo que precisava para escolher o seu rumo. Antes de assinar o seu novo contrato com o Milwaukee Bucks, o mais caro da história da NBA, foi para a Grécia, alimentando rumores de que se desligaria do time que o escolheu. Que iria buscar o seu título de campeão em outra franquia que desse a ele melhores condições. Giannis se manteve em Milwaukee. Giannis sabia que o título, era questão de tempo.
Giannis tomou o tempo que precisava para, mesmo em uma condição adversa de uma pandemia, se divertir em um All Star Game de onde saiu consagrado MVP. O mesmo Giannis que vibrou ao saber que estaria jogando ao lado de Lebron James e Stephen Curry. “Nós ganhamos!”, disse ele na ocasião.
Giannis tomou o tempo que precisava para, surpreendentemente, se recuperar de uma hiperextensão de joelho que muitos davam como um golpe fatal que o eliminaria do resto dos playoffs da NBA. Mas o tempo de recuperação de Giannis é algo que foge à nossa compreensão.
Giannis tomou o seu tempo para ser merecedor da promessa que fez aos seus pais quando os trouxe à arena do Milwaukee Bucks e apontou as camisas aposentadas de Kareem Abdul-Jabar e Oscar Robertson. “Talvez um dia o meu nome esteja ali em cima”, disse ele. Pode contar que vai estar.
Tudo à seu tempo.
World: do Inglês, mundo
Sempre achei curioso, para não dizer prepotente, o título de campeão da NBA ser chamado de “World Champions”, “campeões do mundo”. São trinta franquias que representam unicamente os Estados Unidos e o Canadá. Como podem se considerar campeões do mundo? Seria o planeta tão minúsculo a ponto de caber na América do Norte?
Mas como o seu nome já diz, ou seria mais adequado dizer “profetiza”, Giannis “Adetokunbo”, é aquele que carrega a coroa de volta de além-mar. É o menino nigeriano que ganhou nacionalidade grega para jogar basquete nos Estados Unidos. É o homem que quer levar esperança ao continente africano. É o astro que ao escolher os seus times no All-Star Game, sempre procurou reunir jogadores do mundo todo, principalmente seus “irmãos africanos”.
Giannis Antetokounmpo. Campeão do mundo.
Pela primeira vez esse título fez algum sentido.
Obrigado, Giannis Antetokounmpo!
Por nos emocionar com a sua história.