Pega a visão: verão de 2017. Rodoviária de Cabo Frio, cidade turística do Rio de Janeiro. Estou sentado esperando a minha carona e percebendo o vai e vem dos passageiros. Não resisto, sempre observo tudo e todos. Inclusive esse adolescente, mineiro (percebi pela camisa do Atlético-MG que vestia), carregando a mala com o braço direito ao passo em que com a ajuda do braço esquerdo… Jordan me ajude… ele carregava uma bola oval. Aquela. Daquele outro esporte lá.
Naquele breve momento eu percebi que perdemos. Perdemos uma das melhores piadas de lugar-comum, que é o mineiro indo à praia. Minas Gerais não tem litoral, como nos relembra a geografia. O mineiro no verão indo à praia é um deleite, é daqueles que se emociona diante da beleza do mar. Com as lágrimas ao rosto, se esbalda na água e na areia. Então vejam: não tem espaço para o futebol americano aqui nessa festa! Praia é praia, touchdown é touchdown. NFL, favor não se meter em nossas brasilidades, e nem nas férias de verão dos mineiros. Grato.
Pegando carona em mais um domingo lendário de Super Bowl, eu me lembro da situação do nosso basquete nisso tudo. Brincadeiras à parte, padecemos por amar um esporte que em matéria de Brasil, também fica à margem do gosto popular. “Futebol? Não, meu esporte é basquete.”, era o nome de uma das comunidades do finado Orkut, que por sua vez foi desativado um dia desses, né? Não? Só ignorem.
Somos as maiores vítimas das quadras poliesportivas, aquelas que admitem a prática de mais de uma modalidade. Basqueteiros encontram uma dessas e jogam nela uma, duas vezes. Rezam para que na semana seguinte as tabelas e os aros ainda estejam lá, como tartarugas marinhas ameaçadas de extinção e que podem desaparecer a qualquer momento. Invejamos quem pode improvisar a pelada com dois pares de chinelos. Improvisos com aros de bicicleta e cestas de lixo podem ser feitos, é verdade. Mas olha o trabalho que dá!
E as rodinhas de conversa também são complicadas. Ou quantos papos você já viu começando com a tabela do NBB está uma loucura!, ou que a polícia teve que separar a briga entre as organizadas Jovem Franca e Baurumanguaça. O futuro papai acariciando a barriga da esposa e anunciando aos amigos que a criança vai ser Tijuca Tênis Clube desde criancinha, enquanto a mãe sorridente palpita que precisa manter a tradição da família, Sírio Libanês roxa.
Escapamos tanto quanto possível, mantendo a nossa identidade. Foco no “tanto quanto possível”. Já que por aqui convencionamos falar “chutar” para três, que por sua vez é muito mais fácil e sucinto do que o longo “arremessa”, que fica por muito tempo até sair por inteiro da boca. “Toca a bola”, “deu ovinho” (a famosa bola debaixo das pernas)… Experimenta falar que vai sair para jogar bola e veja a confusão exposta no rosto das pessoas, mesmo enquanto você carrega uma bola laranja nos braços.
Já estivemos mais à margem em relação a outros tempos, caríssimos leitores e peladeiros. Mas vez ou outra a gente se surpreende. Sempre tem aquele conhecido que nunca mais pisou numa quadra depois de completar o Ensino Médio, mas que volta e meia te aborda com “vi o Lebron James na TV e lembrei de você”. Agradeçam por essa pessoa ter a oportunidade de ver o Lebron James, meus amigos. De saber quem é o Lebron James. Outros tempos. Quem sabe o basquete não deixa de ser “o outro esporte” em algum momento?
Deixem a NFL com esse posto, fazendo o favor.