Tal qual Kobe Bryant… vamos ao trabalho.
Preparo físico no basquete é algo muito importante e coisa que eu levo muito a sério. Mesmo em se tratando de pelada de fim de semana. Jogar basquete sempre foi a minha motivação, talvez única, para tomar cuidado com o meu próprio corpo. Eu devo isso a ele e não pretendo decepcioná-lo. Então me comprometo com um rotina pessoal de treinos no qual sou acompanhado pela minha garrafinha do Miami Heat com água, meus modestos equipamentos e a minha garagem, que é meu santuário particular.
Começo com alongamentos, sempre lembrando da frase dos meus amigos que não se alongam sobre você já viu um leão se alongando antes de correr atrás da gazela na savana? Com o passar do tempo e das lesões, não sei os leões, mas os amigos com certeza já deixaram de ignorar a importância de se alongar. Sigo para uma corrida leve em volta da garagem, entre vinte e trinta voltas. A garagem do meu prédio não é tão grande, mas tem o espaço do qual eu preciso. Descanso um pouco e depois sigo para a rotina de flexões de panturrilha, step na caixa (a caixa no caso é a tampa da cisterna do prédio), mountain climber e, finalmente, sequência de suicídios. Pausa para um novo descanso e hora de começar a usar os equipamentos.
Tiro a minha querida bola laranja da mochila, confiro se está cheia o suficiente e começo a sequência de exercícios com ela. Aprendi com a página da NBA Jr. um exercício muito valioso de controle de bola aonde eu me agacho mantendo uma distância paralela entre os pés e controlo o manejo de bola com dribles rápidos alternando a velocidade. Vou mudando o foco do meu olhar para frente, esquerda e direita, mas nunca para a bola. Logo em seguida, pego minhas caneleiras de 4Kg e coloco-as em volta do meu tornozelo de maneira bem firme. Começo a quicar a bola bem rente à minha cintura enquanto levanto a perna oposta ao braço que conduz a bola inclinando a minha coluna para a frente (pesquisei e o nome desse exercício é single leg deadlift). Três vezes com uma, três vezes com a outra. Pausa e depois sequência de trinta agachamentos seguida de leg lift, ainda usando as caneleiras, levantando cada perna doze vezes para o lado, e doze vezes para trás. Finalizo o treino de pernas sentando com as costas contra a parede por sessenta segundos. Pausa para novo descanso.
Pego os meus pesos de 5Kg e começo a fazer três sequências de doze levantamentos. Uma com os cotovelos rentes à cintura, outra fortalecendo os ombros e, por fim, com os pesos na altura da cabeça. Nova pausa enquanto lembro da época em que não tinha pesos e fazia os exercícios com galões d’água. Sigo para sessenta segundos de prancha e finalizo com trinta abdominais e dez v-ups, que é basicamente levantar as pernas com o tronco rente ao chão. Pausa, respiro, e vamos repetir. Tem que ficar no ponto para ficar bem em quadra. Até não poder mais.
Enquanto isso, olho para o lado e um cara passa em sua bicicleta vestindo uma camisa de basquete. Justamente a do Kobe Bryant. Carrega uma bola laranja idêntica à que eu uso para praticar meus exercícios. Ele vai para a quadra. Eu, no momento, não vou. Desde março de 2020 eu me obrigo a manter essa rotina de exercícios. Às vezes não com a constância que eu gostaria, mas tanto quanto possível. Desde março de 2020 o mundo passa por uma pandemia que tirou bastante gente das quadras, inclusive eu. Alguns voltaram a jogar com o passar do tempo. Eu não voltei, apesar dos convites dos quais eu já perdi a conta. Alguns outros gostariam de voltar, mas não podem. Porque são parte do meio milhão de vidas perdidas para o coronavírus no Brasil desde março de 2020 até junho de 2021. Eu não pretendo julgar quem escolheu voltar às quadras nesse meio tempo, creio que não seja o meu papel. Mas é que à minha maneira, eu sigo até o meu limite. Não só o físico enquanto treino, mas também o mental, enquanto permaneço dentro de casa. Até não poder mais.
Cumpre dizer que os exercícios aqui mencionados não devem ser repetidos sem acompanhamento de um profissional de Educação Física