No último dia 26 de dezembro, também conhecido como último domingo do ano de 2021, a quadra da Praça Guilherme da Silveira ficou lotada. Rolou lá o último basquete do ano, que parece ser confundido com o último basquete da vida, do planeta, da existência, tamanha a adesão do pessoal. Gente que não aparece o ano inteiro vem, por vezes acompanhados de filhos, esposas, e se bobear até de cachorro. Entre os muitos projetos do Cultura na Cesta em Santa Cruz, o amigo WG arrumou um tempinho para participar do último basquete do ano. Na mesma Santa Cruz, Tonny Boss capitaneava a restauração de uma das quadras do Cesarão promovida pelo projeto Payback. Fim de ano. Época de ver essas coisas bonitas acontecendo.

Mas voltando para Padre Miguel. Ou Bangu. Ou seja lá onde fica a quadra da Guilherme. Lotada. Algum colega mais animado gravou uma série de stories no celular onde ele sentenciava: perdeu uma, espera lá uma horinha até conseguir jogar outra vez. Confesso que ri. 

Porque veja bem, o “ficar de fora” é algo que é realmente monótono para quem está esperando a sua vez de conseguir entrar em quadra. Mas vamos combinar que deixa a pelada empolgante. Cinco pra cada lado é legal, todo mundo joga. Só que falta aquela motivação extra, a gana de não quero perder essa partida senão eu fico de fora. É aí que começam as melhores disputas e as melhores discussões também.

Quem tá de fora não apita!, gritam os injustiçados. Em situações como essa uma das duas partes vai estar errada. Difícil é saber qual. Às vezes quem está de fora teve a boa vontade de sinalizar uma bola ou um pé em cima da linha, um toque involuntário de alguém que mandou a bola para fora. Ou às vezes quem está de fora só quer colaborar para que a partida se encerre o mais rápido possível e fazer a fila andar. 

Outra que também é excelente: se está de fora e não me viu jogar, não entra!. O “não me viu jogar” é relativo. A tática tem por objetivo resguardar o direito de quem está há mais tempo na fila de espera, de maneira que quem acabou de chegar na quadra não fure a ordem. O problema é quando o recém-chegado é aquele jogador que pode mudar quase que sozinho os rumos da partida. Aí quem está de fora tenta de todas as maneiras ignorar a regra do não me viu e a confusão está armada.

E tem também casos em que a resenha do pessoal que está de fora fica tão boa que quem está em quadra perde um bom tempo na saída de bola porque fica de conversa na lateral da quadra. Se já debatem quem vai acender a churrasqueira e onde vai ser o pós-pelada, aí é sinal de que as coisas estão ficando mais interessantes. O cansaço chega mais rápido e a sede também.

Ficar de fora também é uma maneira de te colocar dentro de uma hierarquia dentro da pelada. Supostamente quem está dentro é bom, não perde as partidas, derrota os adversários um a um. Também supostamente: quem está de fora não é tão bom assim, não é escolhido na formação dos times ou não é conhecido dentro da rotina daquele grupo de amigos já muito próximos uns dos outros. Pode ser frustrante. Por outro lado, pode ser aquela esperança de poder melhorar o seu desempenho tão bem a ponto de você já não ser mais o de fora.

E aí? E aí é que os outros é que vão ter que ver você jogar. Uma hora chega o momento. E é bom demais.

Confira nossa última Pelada de Domingo