Fã do esporte dificilmente não vai ter uma situação em que ele não fale e se?, até mais do que o fã da Marvel. A história tem dessas grandes injustiças esportivas como a seleção de Telê Santana em 82, Felipe Massa em Interlagos naquele quase campeonato, o padre irlandês em Atenas… O fã de basquete também tem lá a sua cota de injustiças, obviamente dependendo do ponto de vista dos justos e injustiçados. Uma delas é a história do jogador Aaron Gordon e suas participações no Torneio de Enterradas do All-Star Game. A primeira contra Zach Lavine, num dos duelos mais disputados de todos os tempos desde Michael Jordan e Dominique Wilkins. A segunda em Chicago, contra Derrick Jones Jr., no ano de 2020. Muita gente até hoje acha que aquela foi uma grande injustiça e Gordon merecia ter levado o título para casa. Legal, legal. Mas eu trago para vocês outra grande injustiça da qual pouca gente sabe. Até agora.
O que vocês não sabem é que para aquele All-Star Game de 2020, o meu bom amigo Mogli recebeu um convite para participar da transmissão no site do antigo Globo Esporte, atual, GE. Representando o nosso podcast, ele estaria comentando o evento a convite do grande Rodrigo Alves, na companhia de ninguém mais ninguém menos do que Marcelinho Machado e da Rainha Hortência. Eu ainda me lembro dos gritos no áudio do celular quando ele me contou a notícia. E não é que o Rodrigo desenrolou um jeito de eu poder ir junto e acompanhar a gravação ao vivo? Era fevereiro e a gente tinha ouvido falar de alguma coisa rolando em Wuhan, na China, mas que ninguém sabia muito bem o que era. Então só alegria. Eu já estava me preparando para saber em qual estação do BRT eu teria que descer, mas em algum momento alguém mencionou o motorista da empresa e eu pedi para me beliscar e ver se eu estava acordado mesmo. Os humilhados foram, enfim, exaltados.
Chegamos no prédio, Mogli e eu. Fizemos a identificação na portaria, Rodrigo veio nos receber. Nos levou para conhecer a redação, fomos apresentados ao Raphael Roque, parceiro dele no Podcast 2 Pontos. Ganhamos até adesivo e imã de geladeira, olha só. Descemos para o subsolo, no estúdio onde a gravação ia rolar. Acompanhamos os processos da produção. Demos um pulo no camarim. Alguém chega com um simpático boa noite. Marcelinho Machado, senhoras e senhores. E aí? Quem vocês acham que leva hoje? Eu demorei um pouco para processar o fato de que o Marcelinho Machado estava querendo saber a minha opinião a respeito de alguma coisa relacionada ao basquete. Quando eu me recompus, afirmei sem medo de errar que ia dar Miami Heat nos três eventos da noite (e o pior é que em três eventos acabou dando Miami em dois deles). Bom palpite! Marcelinho Machado me deu credibilidade. Na minha cabeça, semana que vem ele estaria me ligando e marcando a pelada e o churrasco depois.
Ouvimos outro simpático boa noite. Vocês precisam entender que a Rainha Hortência reina só de estar no ambiente. A gente só faz assumir o papel de súditos. E lá estávamos o Mogli e eu meio sem acreditar que estávamos ali dividindo o mesmo cômodo com aquelas lendas do basquete brasileiro. Na minha cabeça o churrasco não apenas já estava marcado como iríamos todos juntos gravar a chamada nova da emissora. Mais uns minutos e eu estaria convicto que íamos gravar a vinheta de fim de ano cantando hoje a festa é sua… Por sorte eles se encaminharam para o estúdio e eu deixei meus devaneios de lado. Até porque ali eu só estava acompanhando. Na transmissão estavam Rodrigo Alves de apresentador, Marcelinho, Hortência e Mogli comentando o evento. Eu? Em algum momento alguma boa alma da produção gentilmente arranjou um caixote para que eu pudesse me sentar. Uma pena eu não me lembrar do nome dele. Gostaria de chamá-lo para o churrasco que eu tinha idealizado na minha cabeça.
A cobertura começou, bem descontraída, bem humorada e em algum momento alguém pediu pizza. Não podia ficar melhor. O desafio de habilidades foi vencido por Bam Adebayo do Miami Heat. O campeonato de três pontos foi vencido por Buddy Hield do Sacramento Kings. Até que chegou o evento mais badalado da noite, o torneio de enterradas. Foram disputar a final o nosso querido Aaron Gordon, do Orlando Magic, e Derrick Jones Jr., do Miami Heat. Até o momento em que aconteceu a grande injustiça da noite. Não, não estou falando do Dwyane Wade se fazendo de desentendido na hora de dar as notas.
O Rodrigo havia proposto a dinâmica de perguntar aos participantes ali com ele qual a nota que eles dariam para as enterradas à medida em que os jogadores faziam suas performances e ver se batia com o que os juízes do evento achavam. Acontece que em um dado momento o atleta do Miami deu uma enterrada tão contundente, tão poderosa, tão empolgante, que todos os que estavam no recinto deram nota dez. Até aí tudo bem. O problema foi que eu me empolguei tanto que também berrei um sonoro DEZ sentado lá no meu caixote. Rodrigo Alves me olha. Eu tapo a minha boca com a mão, já sabendo a besteira que eu fiz. Eles faziam parte da cobertura. Eu não. Eles tinham microfone. Eu não. Me pergunto se quem estava em casa ouviu uma voz do além gritando DEZ ao fundo da transmissão. Dali a pouco ao fim da transmissão a Rainha Hortência puxou um papo sobre como a Dança dos Famosos era desafiadora. Na minha cabeça ela fez isso para que ninguém precisasse comentar sobre o meu vexame. Obrigado, Rainha.
O resto dessa injusta história o leitor já sabe ou já imagina. Por causa do Derrick Jones Jr. e do meu DEZ do alto do meu caixote, nunca fui chamado para integrar a equipe do jornalismo esportivo da Globo, nunca fui chamado para a pelada e o churrasco do Marcelinho e da Hortência e vocês nunca puderam ouvir a minha voz cantando a vinheta de fim de ano. Se quem perdeu mais naquela noite de fevereiro de 2020 fui eu ou o Aaron Gordon, só a história vai poder dizer. Injustiça. Seguimos. O Aaron Gordon e eu.
Diferentemente dos devaneios da minha cabeça, o Rodrigo Alves é um amor de pessoa e gente finíssima. Até hoje somos super gratos pelo convite que ele fez e pela oportunidade de ter participado dessa cobertura. Vocês podem acompanhar o trabalho dele a frente do podcast Vida de Jornalista.