Quando chegam os Jogos Olímpicos, para quem gosta, chega junto uma emoção inexplicável. Uma vontade de torcer até em disputa de bola de gude, caso a sugestão do historiador Luiz Antônio Simas fosse levada em consideração e o esporte fosse considerado como modalidade olímpica junto com a porrinha. Torcemos pelo Brasil em todas as modalidades, paramos o que estivermos fazendo a qualquer momento para ver o que estiver passando pela tv. O basquete não é exceção. Vemos as estrelas que estamos acostumados a acompanhar no palco mundial junto com outros astros internacionais.
Aí, lembra da olimpíada na escola?, alguém pergunta na pelada do fim de semana. Pronto. Está dada a largada para uma sessão nostalgia sem hora para acabar. Muito menos pelo nível técnico do que qualquer outra coisa. Porque se sabemos uma coisa sobre o basquete em olimpíadas escolares é que ele era na maior parte das vezes muito ruim. Não menos emocionante por isso. Veja bem, aquela disputa suada, aguerrida, que invariavelmente acabava em zero a zero no placar, seguia para a “disputa dos pênaltis”, já que os colegas tinham uma dificuldade imensa em assimilar o lance livre no vocabulário do país do futebol. Tomo mais por excesso de vontade de vencer do que falta clara de habilidade com a bola laranja. O clima olímpico escolar era especial.
Lá na minha escola diversos formatos de olimpíada foram experimentados até chegar no que consideramos ideal. Uma das tentativas foi um “turma contra turma” que rendeu uma disputa emocionante entre as duas oitavas séries. Um amigo meu da turma rival tentava nos intimidar falando que “o Gabriel já enterrava”. E o infeliz enterrava mesmo, dono de um corpanzil muito avantajado diante dos demais meninos da mesma idade. Sem problemas, nosso time os encarou de igual para igual, não permitindo o Gabriel dar uma enterrada sequer e uma amiga minha jura que eu fui o cestinha daquela partida. Coisa que não fui, mas até hoje eu tomei o cuidado de jamais desmentir publicamente em nome da minha suposta reputação.
Já no meu último ano Ensino Médio chegamos ao formato adotado até hoje de dividir a escola inteira em quatro equipes diferentes. Um verdadeiro sucesso, exceto pelos que se aproveitaram da oportunidade para perguntar se a participação era obrigatória ou se ia valer ponto na média. Nós, os estudantes “veteranos” do terceiro ano, ficávamos encarregados de administrar as equipes, organizar os times, puxar aquele atleta sub-11 para jogar no sub-13, talvez no sub-15 e até no sub-17 por falta de vaga no elenco. Cortar cartolina, encher bexiga, organizar gritos de guerra, pintar alguém de verde na equipe verde que ganhava às vezes de “mascote Hulk”, essas coisas… um verdadeiro acontecimento. O importante era reunir todas as equipes em um espírito, um único objetivo em comum: reclamar que o professor de Educação Física estava claramente roubando na arbitragem.
E o último ano do Ensino Médio tem aquela emoção de despedida. E se fosse para me despedir, era questão de honra sair com a medalha no peito. Até a “tocha olímpica” eu carreguei (três voltas correndo na quadra diante das turmas enfileiradas para o Hino Nacional). Eu queria tanto aquela medalha, que quando nossa equipe foi para a final contra o time verde, após garantir suados dois pontos num rebote ofensivo, eu fiquei o tempo inteiro marcando o melhor jogador deles que era letal no contra-ataque. Marquei com tanto afinco que dei as costas para o meu time no ataque e colei nele para eliminar qualquer possibilidade de ponto em transição. Cara, o seu time tá no ataque!, me disse ele. Eu sei, eu sei…, respondi sem dar muito assunto. Deu certo. A medalha veio num placar de “goleada”. 6 a 0. A despedida perfeita.
Que saudade, viu?