Eu tenho uma mania meio doida. Uma não, aliás. Várias. Só que a que eu escolhi para falar hoje talvez seja menos doida pela quantidade de outros doidos que também possam tê-la. Eu não posso passar por uma quadra de basquete e ignorá-la. Não que eu ande por aí sempre a postos com tênis e bola prontos para a qualquer momento começar uma partida. Mas é que eu sempre faço um registro mental daquela paisagem. Como se ela não ficasse completa sem a quadra ali.

Claro que ela pode estar capenga, sem pintura, com um aro frouxo ou às vezes sem aro nenhum. Pode ter as traves de futebol, por ser poliesportiva. Detalhes, meros detalhes. Um dos quais você não pode enganar é a presença. Sim, a quadra emite uma presença muito forte. Ela fisga o meu olhar de uma maneira inexplicável. Me pego olhando aquele espaço e imagino todos os duelos, toda a adrenalina e mais importante, todas as histórias que ela conta.

Aconteceu comigo em Curitiba, passando de ônibus pela Praça Oswaldo Cruz. Aconteceu comigo em Olaria e em Irajá e em Sulacap e no Valqueire, aqui no Rio de Janeiro. Aconteceu há muito tempo atrás em Realengo, na Praça do Canhão. Aconteceu no Google Maps olhando a quadra do metrô do Brás em São Paulo. Aconteceu no Parque Municipal de Belo Horizonte. Foram locais por onde eu passei, olhei a quadra e pensei ainda vou jogar ali. Cumpri a promessa em algumas e ainda há tempo de cumprir em outras.

E não menos importante: tem as pessoas. Não sei quem são, lógico. Mas são as pessoas que, embora se movimentem, pulem, arremessem, gritem e comemorem, são tão vivas e tão constantes que já fazem parte da paisagem. Talvez não sejam as mesmas. Ou quem sabe, talvez sejam mesmo as figuras de sempre. Com dia e horário marcados para bater uma bola. Elas se misturam àquele cenário de tal forma que você já não imagina aqueles lugares sem aquelas pessoas. Certeza de que o simpático carro que registra as imagens do Google Maps passou com sua câmera e eternizou as silhuetas daquelas pessoas para sempre no banco de dados das redes. 

Certa vez um casal de conhecidos me confidenciou estar almoçando em um restaurante no Ponto Chic, em Padre Miguel. Um que fica bem próximo a uma praça, que por sua vez também tem uma quadra. Começaram a ouvir barulhos de uma bola de basquete sendo driblada. Na hora pensaram em mim, que à época treinava meus arremessos por lá. Até hoje permanece a dúvida se realmente era eu ou não. Não tenho o menor interesse em solucionar o mistério, pois a certeza mais importante eu já tenho.

Eu virei parte da paisagem.

(…)

Algumas semanas atrás, um quarteto de amigos que não se via há um bom tempo se reuniu para jogar basquete na quadra do Clube dos Oficiais da Vila Militar. Antes se encontravam quase que semanalmente para jogar a pelada de domingo. Mas a vida, os compromissos, a idade e, de quebra, uma pandemia, alterou drasticamente a rotina deles. Mas alguns anos e três doses de vacina depois, pensaram por que não?

Dez minutos de jogo pareciam dez horas em quadra. Os corpos duros, lentos e com amnésia na memória muscular. Sem fôlego para ir e voltar, isso porque jogaram meia quadra. Marcação frouxa. Os arremessos errando o aro por muito. Ou seja: as risadas foram ótimas e a alma saiu lavada.

Bruno, Cleber e Mario. Valeu mesmo, meus amigos.

Na imagem de capa, a Praça Oswaldo Cruz em Curitiba – Paraná. Na imagem seguinte, Cleber “Moreno” experimenta um arremesso na quadra do Círculo Militar da Vila Militar, Rio de Janeiro – RJ. Spoiler: não foi cesta.

Confira a nossa última Pelada de Domingo