Em oportunidades anteriores nessa coluna eu já preguei: time contra o negócio é diferente. Até mesmo numa pelada de domingo. Teve aquela vez em que o time do Bruno Machado, que não é parente do Marcelinho e do Duda, pediu uma revanche para o nosso time. Compreensível. A nossa primeira partida contra eles foi um atropelo nosso diante de um time cujo um terço ainda estava semi-alcoolizado por ter voltado da balada. O pivô deles reclamou de ter perdido dez quilos por ter jogado ao sol. Imagino que tenha ficado aquele sentimento de queremos outra chance. E o pedido foi aceito. Com direito a evento no Facebook e tudo.
Dessa vez o time do Bruno contava com dois reforços, e um dos reforços era o Junior Coqueiro. Eu nunca soube até hoje se “Coqueiro” era sobrenome de verdade, ou se ele morava na localidade conhecida como “Coqueiros”, ou se era uma referência ao tamanho dele (para cima e para os lados) que dava a sensação de se estar jogando, de fato contra um coqueiro. O Coqueiro era bom, e eu sabia. Já começou o bafafá no nosso time sobre precisarmos de reforços, de treinar, de rezar, e obviamente não fizemos nada disso. Afinal, o nosso time tinha o Peixoto. O Peixoto era o padrão que o Umbelino utilizava para dizer que um jogador da NBA (à época, na maior parte das vezes esse jogador era o Mario Chalmers) era péssimo. Ah, qual é, cara? Peixoto é melhor do que ele!, dizia ele numa certeza que seria até capaz de fazer você acreditar de que o Peixoto era mesmo melhor que um atleta da NBA. Acalmei a galera. Dois bons jogadores não são capazes de derrotar um time bem armado, eu disse. Com a sabedoria de um Phil Jackson, porém com um desespero de J.R. Smith.
Chegamos em quadra prontos para o show. E abrimos o placar com dois pontos que pareciam só o começo desse show, porém mal piscamos e tomamos a cesta de empate. Do Coqueiro. Sabíamos que alguma coisa estava diferente ali, porque da outra vez nós só tomamos a primeira cesta depois de termos feito outras seis. Foi um show, mas do Coqueiro. Tentávamos de tudo na defesa a fim de parar aquele monstro, mas nada dava certo. No ataque tampouco, muito por conta do nervosismo deste que vos escreve. Combinamos de trocar a marcação no segundo quarto para homem a homem. Não digo que o Coqueiro riu da nossa cara, porque ele não ria. Antes tivesse gargalhado, porque éramos uma piada. Dava pena da gente. Mas no nosso time o Higor, completamente fora de órbita e com delírios de Kareem Abdul-Jabar, acertou dois ganchos sem olhar a cesta, que ele jurava que eram o carro chefe dele apesar do aproveitamento inexistente. Estávamos no jogo. Com 12 pontos atrás do placar.
Acho que nunca na vida eu tomei tanto esporro com o Cadu e o Mogli me olhando nos olhos e me pedindo calma. O time inteiro se incentivando. O Thomás dizendo que dava pra virar. Logo o Thomás que nunca tinha jogado com a gente. Olhei para o lado e vi o Peixoto. O Peixoto que era melhor do que muitos atletas da NBA e principalmente o Mario Chalmers. Precisávamos voltar para a partida e ganhar aquilo. Ceder a revanche não era uma opção. Estava valendo… bom, razoavelmente não estava valendo nada, mas… ah, vocês sabem.
Voltamos para o jogo. Cinco ataques e cinco cestas. Eles zerados. O Coqueiro não arrumou nada. O Mogli jura até hoje que o motivo da virada foi o Pelé, que saiu de quadra com 2 pontos, 1 turnover e uma olhada na minha cara como quem diz que foi minha culpa. Sei lá. Eu deixei os meus pontos. O Umbelino gritou pedindo a bola como quem diz dá aqui, confia! e arremessou um tiro longo sem ninguém para pegar o rebote que fez o Cadu gritar Puuuuuuu… ta bola boa! assim que ela caiu só balançando a rede. O Thomás bateu um fundo bola que se transformou em cesta, só que do outro time, porque ele deu a bola na mão do Coqueiro, que riu pela primeira vez. Rimos também porque àquela altura a partida estava na nossa mão. Lembrei à todos que Dois bons jogadores não são capazes de derrotar um time bem armado enquanto celebrávamos.
E convenhamos… nós tínhamos o Peixoto.