Zion Williamson é sinônimo de grandeza: 20 anos, estrela do time de basquete da Duke University, primeira escolha do draft em 2019 e uma das maiores promessas para o futuro da NBA. Apesar da excelência que desempenha, os comentários sobre seu corpo sempre entram em questão. É fato que as lesões o acompanharam, o que pode ser um impacto de seu sobrepeso, mas eu lanço um questionamento: até onde é preocupação? E onde começa uma descrença de suas capacidades por conta do seu tamanho? Vamos por partes.
Williamson é uma força da natureza. São 128 kg para os 1,98m, um jogador pesado para a função que desempenha. Apesar disso, Zion não se limita: a explosão, agilidade e grande capacidade de saltar são o que o diferenciam de tudo já visto. O corpo parrudo ajuda a dominar dentro do garrafão, trombando, girando e subindo para a finalização da cesta. A impulsão para as enterradas também lhe atribui o hype de ser uma das maiores promessas que a NBA verá jogar. Mas é exatamente nisso que Zion se resume no momento: uma promessa.
A estreia do calouro tinha tudo para ser brilhante, se não fosse pela lesão durante a pré-temporada. O camisa um teve um breve retorno em 20 jogos antes da paralisação geral da NBA, e uma rápida passada pela bolha de Orlando, antes do New Orleans Pelicans ser eliminado no play-in. Tudo isso para dizer que ainda não vimos todo o potencial que Zion tem. Não deu tempo. Foram pequenas amostras do que ele é capaz em quadra e ainda há muito para ser mostrado. Então, por que vemos uma série de comentários dizendo que ele precisa mudar seu corpo imediatamente?
Resposta simples: as lesões. Williamson tem um longo histórico delas: uma contusão na high school, ainda em 2017, e o infame rompimento do tênis que ocasionou uma entorse de primeiro grau no joelho, que o tirou das partidas da Duke por três semanas. Foi também por conta do joelho que Zion se manteve fora das quadras durante a maior parte do ano como calouro, por conta da ruptura do menisco. Uma lesão comum, mas que leva um tempo de recuperação relativamente longo.
Podemos dizer que tudo foi ocasionado por conta do sobrepeso? Nem sempre. Em 2017, Williamson tinha um corpo bem menor. Já na Duke a culpa foi mais do tênis, do que do jogador em si. Depois disso, o corpo de Zion aumentou em tamanho, o que pode ter tido impacto na última lesão, mas nada que seja completamente comprovado. Até David Griffin, vice-presidente do Pelicans, afirmou que a ideia de que as lesões aconteceram por Zion estar em más condições físicas “é estúpida”. Digamos que foi uma junção do histórico aliada à falta de uma preparação física adequada, sendo o peso uma cerejinha no bolo. Resumo da ópera: as lesões não justificam o tanto de pitacos que o camisa um do Pelicans recebe sobre seu corpo.
Mas algo justifica, e peço que você que me lê nesse instante reflita com cautela e cuidado sobre uma questão que assola essa sociedade complexa. Eu estou falando de bodyshaming – um processo de apontar o corpo alheio a ponto de torna-lo uma vergonha, ou melhor, criar a noção de que há algo errado com o corpo de outra pessoa. Até que ponto a preocupação é com o desempenho de Zion, tendo em mente que não vimos tudo o que ele tem a mostrar? Ou será que os apontamentos milimétricos estão mais relacionados a não aceitação de corpos grandes dentro do meio esportivo?
Sobre as piadas que juntam Zion, seu corpo e comida, não preciso nem falar nada: é bodyshaming na certa, já que não é por uma pessoa ser gorda que sua vida se resume em alimentação. No caso da dita preocupação com o atleta, há uma linha tênue entre a expectativa de um melhor desempenho e a negação de que um corpo que beira o gordo pode ser ágil. E se tem algo que Zion Williamson tem, é agilidade. Seu estilo de jogo é o da força, não tem como negar, e o corpo grande é o segredo que o torna imparável.
Zion contou em entrevista à revista Men’s Health que as pessoas lhe dizem que ele não deveria ser capaz de fazer o que faz por conta de seu tamanho. Um comentário brutal e nocivo, mas que não o abala, já que ele afirma ser “grato pelo corpo que tem”. No pouco que mostrou, Williamson deu a letra: há capacidade de sobra. Então, antes mesmo de dizer o que precisa ser mudado, abra espaço para que Zion Willamson se torne o astro que almeja ser, no futuro que está por vir.