Eu sou totalmente a favor de separar um idiota de seu dinheiro!

A frase acima foi dita pelo meu querido amigo Rodrigo Bamondes e, reza a lenda, que logo após ela ser dita, carteiras foram atiradas na mesa do bar em que estávamos reunidos. O reconhecimento da própria idiotice é, antes de mais nada, uma virtude muito pouco valorizada. Assim como a perseverança na mesma idiotice é alvo de muitas críticas injustas, ao meu ver. Eu sou totalmente favorável a sempre ter história pra contar, e as idiotas estão sempre entre as melhores.

Digo isso porque recentemente a NBA inaugurou uma nova loja em São Paulo, no bairro do Morumbi. A maior da América Latina, cheia de penduricalhos, atrações, uma quadra própria, o molde da mão do Kawhi Leonard e uma réplica do Tacko Fall. E como se você já não pudesse se sentir menor ainda, tem o preço que tudo isso custa. Veja bem, amigo leitor: a NBA é linda, é maravilhosa, é entretenimento, e ela também quer o seu dinheiro. E o meu também. E dinheiro… bom, cada um sabe do seu. O que não vai impedir a NBA de tentar, mesmo assim.

E como eu falei no início, as histórias movidas por decisões idiotas estão sempre figurando entre as melhores. Teve aquela vez em que eu fui na Loja da NBA aqui no Rio de Janeiro mesmo. E fui com entusiasmo no coração e dinheiro no bolso, o que por si só é uma péssima combinação. Fui determinado a comprar uma jersey da nova marca fabricante das roupas dos atletas. Uma jersey de jogo, bem bonita, para figurar como a jóia da coroa da minha coleção de itens da NBA, que é bem grande, digamos. Sabe aquela história capenga de que “não é só uma roupa, é um lifestyle”, que usam para convencer qualquer trouxa? Prazer, eis aqui um trouxa.

O time para o qual eu torço na NBA é o Miami Heat. Miami que por sua vez é uma coleção dentro da minha coleção. Tenho uma infinidade de coisas relacionadas à franquia, e como disse antes, estava prestes a adquirir um item de ostentação. Tinha que ser “A” camisa. E as opções da época eram duas, o que já era um golpe de sorte. Se você torce para uma franquia de pouca popularidade, conseguir uma camisa do seu time torna-se tarefa das mais difíceis. Os fãs do Indiana Pacers que o digam. Mas voltando àquela fatídica tarde de 2018…

Uma das opções era a camisa número 7 do armador esloveno Goran Dragic. Europeu, experiente, cerebral, “The Dragon”, super identificado com a franquia. A outra opção era a número 21, do pivô-estrela-em-ascenção Hassan Whiteside. Saído de sabe-se-lá-de-onde, Hassan colecionou alguns highlights interessantes na última temporada. Uns tocos bonitos, etc. Pat Riley, presidente da franquia, comprou a aposta e renovou com o pivô por um contrato multimilionário. O futuro do time. Pat Riley apostou nele. Eu também. Acostumado às trombadas do garrafão nas peladas muito mais do que a tarefa de armar o time e além disso, trouxa que fui, comprei a camisa de Hassan Whiteside. Não me perguntem o preço. Vocês fazem ideia.

A história virou lenda. A lenda virou um mito. 

Dali pra frente caímos em desgraça, Hassan Whiteside e eu. Usar a camisa de Hassan Whiteside não é nem algo comparado a usar a camisa de Mauro Shampoo, do Íbis Sport Club, artilheiro sem gols. Ou do herói injustiçado do Bangu Atlético Clube, o Ado, que teve o azar de perder um pênalti que custou um campeonato brasileiro ao time. Hassan Whiteside não tem nem uma história boa para contar, tirando a história do idiota que comprou a camisa dele na esperança de ser um símbolo de dominância. Hassan Whiteside virou um símbolo de preguiça, incapaz de buscar um rebote ofensivo. O que domina é a vergonha mesmo. Tenho cuidado de só usar sua jersey, a mais cara da minha coleção, apenas em ambientes em que ninguém entende nada de basquete.

Em protesto, juro não ceder mais aos encantos da Loja da NBA. E como todos sabem, “quem jura, mente”. Certeza de que em algum momento precisarei de um par de meias, um chaveiro, um copo plástico, uma capinha de celular. E lá estará a NBA, sorridente, convidativa e com acesso quase que ilimitado à minha carteira. Incorrigível que sou, atenderei aos seus apelos. Peço desculpas a todos pelo mau exemplo. Inclusive…

Peço desculpas especialmente ao Goran Dragic.

Na capa da postagem e na galeria acima: a minha coleção de itens do Miami Heat, Bangu – Rio de Janeiro – RJ. Na imagem seguinte, uma certa jersey número 21. Se me perguntarem o nome nas costas eu respondo “Raimundo”. Parque Tanguá – Curitiba – PR.

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