Jogar basquete aos fins de semana, descompromissado, com os amigos, não valendo títulos ou campeonatos, é uma festa. Uma celebração. É sorrir à toa, jogar conversa fora, deixar o corpo produzir endorfina e de brinde, fazer umas cestas. Natural que alguns interesses entrem em conflito. Só que tem gente que abusa.

Tudo bem rolar a famosa resenha pós-jogo. Se bobear, a resenha já rola durante o jogo. A pessoa vai lá, joga umas partidas, sente o cansaço do corpo e já dá aquela pisada em falso. Leva a mão à coxa. Tenta dar um pique, mas não sai do lugar. Aí na primeira oportunidade vai pra beira da quadra e tira o tênis. Tirou o tênis, já era. Começa a jogar conversa fora e pergunta se depois que a bola parar a galera não vai tomar um gelo (entenda “gelo” como quiser, leitor). Até aí beleza.

Só que tem aquela galera que só foi pra quadra com um único objetivo: zoar os outros e bater papo. Tem uns que inclusive vão com camisa de basquete, só para combinarem com a ocasião. Mas de chinelos nos pés, óculos escuros e corrente no pescoço. O famoso “relíquia”, já diria Vitor Gonçalves, o “Suburbano da Depressão”. Nada contra. O sujeito em questão é querido da galera, conhecido de anos. Fora que ele anima o ambiente, fala alto, gargalha, zoa. Quando a partida para, ele até pega a bola, dá uns dribles, arremessa… mas você vai passar a vida inteira sem ver aquele cara jogar uma partida. Mesmo assim, todo domingo ele está lá. E ainda vai reclamar quando a galera não aparecer.

Tem também aqueles que não se assumem. Não são honestos consigo mesmos e nem com quem está em quadra. O indivíduo chega na quadra com os tênis em uma mão e o celular na outra. Olha a galera se aquecendo, manda mensagem no Whatsapp, espera não sei o quê e não sei quem. Beira a grosseria  inclusive, dando aquela sensação de que o figura está avaliando se quem está ali na quadra é digno de jogar com vossa magnificência. Calça os tênis, tira cinco segundos depois, tira os cadarços, bota os cadarços de novo, tal qual um Karatê Kid das quadras… nada parece estar legal pra ele. Pede a bola, dá três arremessos e vai mexer no tênis de novo. Veio para quê, afinal de contas?

E não tem como deixar de fora desse grupo os famosos “Já tô saindo de casa!”. No campeonato mundial de mentiras, essa aí talvez só perca para “Não me arrependo de nada!”. O “Já tô saindo de casa!” na verdade ainda não superou a resenha do dia anterior e mal consegue segurar as expectativas para a próxima. Esse grupo, eu tenho certeza, não tem problemas com o relógio. Muito pelo contrário, eles calculam com precisão matemática a hora certa de chegarem em quadra. Criam expectativa nos grupos do Whatsapp, mentem a geografia da distância entre o lar e a quadra e ainda terceirizam a responsabilidade do atraso com “pô, minha mulher pediu pra ir à feira; fui levar as crianças na casa da minha sogra” e tantas outras desculpas. Aí a figura chega em quadra quase três horas depois do horário combinado e ainda tem o cinismo de perguntar “Ué! Geral cansou? Já?”.

Sempre achei meio sem graça as celebridades sentadas à beira da quadra nas partidas da NBA. Acho uma péssima influência para os peladeiros de fim de semana. Inclusive sempre torci pelos jogadores desgovernados atrás das bolas perdidas atropelarem a Hollywood inteira ali (tirando o Jack Nicholson, talvez). Quanto mais Shaquille O’Neal, melhor. Menos garçons e mais isoporzinho. Menos Prada e mais chinelinho de dedo. Menos paparazzi e mais fotos da galera.

E viva a resenha!

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