Orlando, agosto até outubro de 2020…

O mundo em pandemia da Covid-19. A NBA, após meses de temporada suspensa, bolou uma solução ousada para a conclusão de uma temporada que muitos davam por encerrada. A tal da bolha na Disney. 22 times confinados sob forte esquema de saúde, segurança e rastreamento para jogarem basquete enquanto o mundo lá fora se dividia entre protestos por igualdade social e racial e tentar não morrer.

Inevitavelmente surgem os comentários de “ah, mas e se não fosse o vírus?”, “ah, mas os jogadores perderam o ritmo!”, “ah, mas vai ser o título da Copa Mickey”, “ah, mas o Lebron tinha que estar tuitando sobre isso!”, “ah, mas o Utah Jazz não tem título!” (desculpe, velhos hábitos e tal). E claro, o maior deles: “ah, mas essa temporada vai ter um asterisco!”

Com ou sem asterisco, deu no que deu: o esquema de segurança funcionou, o Los Angeles Lakers bateu o Miami Heat na Final da NBA, J.R. Smith tirou a camisa sem ter derramado um pingo de suor em quadra, o filho moleque do Rajon Rondo bebeu champanhe em rede nacional e esqueceram o Quinn Cook no ônibus de volta pro hotel.

Padre Miguel, anos 2000…

Um colega de escola não consegue, mas nem por decreto, não falar “ASTERÍSTICO” ao invés de “asterisco” e isso é maravilhoso.

Estados Unidos, sem o Canadá por protocolos de segurança, temporada 2020-2021…

O mundo ainda em pandemia da Covid-19. A NBA, após um período absurdamente ridículo entre uma temporada e outra, promove uma temporada regular com inúmeros protocolos de segurança em meio a uma realidade diferente, porém parecida. Os Estados Unidos avançam na questão da vacinação. O caminho é longo, mas o dinheiro precisa continuar circulando e a NBA sabe disso. Procurando minimizar as perdas, a temporada acontece com uso de máscaras, plateia inexistente ou reduzida e times se deslocando o mínimo possível. Mas se deslocando mesmo assim. O inevitável também acontece. Os casos positivos de contaminação de atletas e equipe técnica começam a aparecer. O clima é de festa, mas a música é de enterro. Ou vice-versa.

Não vamos ser hipócritas. O espetáculo ainda está lá, acontecendo. Sim, estamos vendo o possível início de uma dinastia no Nets. Sim, estamos vendo o tão aguardado retorno do Stephen Curry. Sim, estamos vendo Gregg Popovich pistolando com a arbitragem no meio do ar e de máscara. Mas também estamos vendo Seth Curry chegar para o jogo no banco de reservas e sair no intervalo porque descobriu que testou positivo para Covid-19. Também estamos vendo times não terem minimamente 8 jogadores para disputar uma partida. Também estamos vendo Joel Embiid e Ben Simmons não participarem de um All Star Game porque foram cortar cabelo e o barbeiro testou positivo. All Star Game que por sua vez, enterradas e bolas de três à parte, sofreu ameaça de boicote pelos próprios atletas.

Continuamos assistindo a isso tudo. Porque gostamos demais desse esporte, porque todo o resto do mundo lá fora ainda parece duro demais pra digerir, porque não tem muito remédio mesmo, porque eu já nem sei mais o porquê… mas se me perguntarem qual temporada merece ser registrada com um asterisco na história, não há dúvida nenhuma. O asterisco é em 2021.